sexta-feira, outubro 09, 2009

Do Blog de Ricardo Noblat - 09/10/09

Melou!!!
por Serafim Corrêa.

A Folha de São Paulo trouxe, ontem, de manchete: "Governo segura restituição".

A matéria explicava que, por conta da queda da arrecadação, o Governo Federal resolvera segurar a restituição de imposto de renda, transferindo boa parte dela para o primeiro trimestre do próximo ano.

Mais tarde, quando a notícia já estava em todos os blogs do país, o ministro Guido Mantega deu a explicação: “Não haverá prejuízo para ninguém já que a restituição é corrigida pela taxa Selic”.

A explicação não resiste a uma pergunta de um aluno do primeiro ano de Economia ou de Ciência Política. Isto porque a Selic, que corrige a restituição, é exatamente a mesma que remunera a Dívida Pública.

O aluno de Economia deve perguntar:

“Ministro, mas se a taxa de juros é a mesma, qual é a diferença entre dever para o contribuinte que pagou a maior e dever para os bancos que compram os títulos da Dívida Pública?”

E o de Ciência Política:

“Ministro, mas se o custo é o mesmo, por que impor a milhares de pessoas que tem dívidas com taxas de juros maiores um enorme custo financeiro, beneficiando os bancos e desgastando o governo junto à classe média?

O Ministro não vai responder. Sabem por que?

A razão é outra.

A arrecadação de Imposto de Renda é um dos componentes da base de cálculo dos repasses do Governo Federal para Estados e Municípios através do Fundo de Participação dos Estados e dos Municípios.

A cada dez dias o Governo apura o arrecadado e diminui o que é restituído.

Imaginemos que a arrecadação foi de 100 unidades e a restituição teria que ser de 20 unidades. A base será de 80 e com isso cairiam mais ainda os repasses em favor de Estados e Municípios com a inevitável gritaria produzida por governadores e prefeitos.

Se, no entanto, a restituição é adiada, a base é 100 e os repasses não diminuem, nem provoca alarido de governadores e principalmente de prefeitos.

É por essa razão, e só por essa, que o Governo Federal está empurrando com a barriga a restituição de Imposto de Renda.

O que não estava nos planos era um repórter sagaz descobrir e a Folha de São Paulo publicar de manchete.

E aí, como diz a garotada, “melou”.


Serafim Corrêa é funcionário aposentado da Receita Federal e ex-prefeito de Manaus

segunda-feira, outubro 05, 2009

Petróleo Novamente

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO - O ESTADO DE SÃO PAULO - 04/10/09

Pela terceira vez escrevo nesta coluna sobre a questão do petróleo. Não é para menos: trata-se de recurso fundamental que de riqueza virtual pode tornar-se uma das molas de nosso desenvolvimento futuro.
A chamada Lei do Petróleo, de 1997, preservou o monopólio da União sobre o subsolo, mas autorizou a concessão da exploração, da distribuição, do refino e do transporte do petróleo e seus derivados a empresas privadas, além da Petrobrás, que antes detinha a exclusividade das operações nessas áreas. Para regular o setor criou-se a Agência Nacional do Petróleo (ANP). No mesmo arcabouço aparece o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), órgão de assessoramento da Presidência da República. Esse marco institucional, o governo determina o ritmo da abertura de novas áreas de exploração. Outro aspecto importante da legislação atual é a existência de critérios que, nos leilões, favorecem as empresas que se comprometem a comprar produtos nacionais para os projetos de exploração.
É muito bem-sucedida a experiência de mais de dez anos de funcionamento desse modelo. Em 1993 produzíamos 693 mil barris de petróleo por dia; em 2002 alcançamos 1,5 milhão de barris; em 2009 atingimos 2 milhões de barris. O maior salto na produção se deu entre 1997 e 2002. Os recursos obtidos pela União foram substanciais e muito maiores do que os dividendos distribuídos aos acionistas privados. A União recebeu em 1999, como pagamento de bônus de assinatura, royalties ou participações especiais, cerca de R$ 2 bilhões. Em 2007 foram mais de R$ 17 bilhões, a maior parte deles decorrente de participações especiais, passíveis de ser aumentadas por um simples decreto.
Então, por que mudar o regime agora? O tema de fato requer discussão, dado o novo balanço de riscos presumíveis (menores) e receitas esperadas (maiores) que o pré-sal apresenta.
Há um ponto a respeito do qual parece haver convergência: sendo vultosa a renda adicional a ser gerada pela exploração do pré-sal, grande parte dela em dólar, é prudente criar-se um Fundo Soberano. Isso para minimizar dois efeitos negativos: um gasto indiscriminado que impedisse as gerações futuras de se beneficiarem dos frutos de uma riqueza natural comum e uma valorização enorme do real, em detrimento da competitividade de nossa economia, em geral, e da indústria e das exportações, afora o petróleo, em particular.
O melhor é fazer no Brasil algo nos moldes do que faz a Noruega, com o seu Fundo Soberano. Aqui, por que não deixar sua gestão em mãos do Tesouro Nacional e do Banco Central, que possuem equipes altamente especializadas, sob a supervisão de um pequeno grupo de pessoas designadas pelo presidente e aprovadas pelo Senado, que prestassem contas anuais ao Congresso e ao Tribunal de Contas da União (TCU)? A legislação relativa ao fundo poderia prever a destinação de suas receitas financeiras à área da educação, em especial a pesquisas para o avanço científico e tecnológico, particularmente em energias limpas e tecnologias poupadoras de gás carbônico.
Não é por aí, porém, que vai o projeto do governo. Para a gestão do fundo a proposta cria um conselho com pessoas nomeadas pelo presidente da República. Submetido ao Executivo, sem regras claras, o fundo poderá aplicar seus recursos em ativos no Brasil ou no exterior, recursos que poderão acabar por alimentar os orçamentos anuais e plurianuais da União, o que abre espaço à ingerência política na sua destinação. Não é esse, seguramente, o modelo norueguês.
O risco maior de politização, todavia, está na criação de uma nova empresa estatal, a Petro-Sal, diretamente subordinada ao Ministério de Minas e Energia. Será o Ministério que indicará ao Conselho Nacional de Política Energética as áreas nas quais se aplicará o regime de partilha (mesmo fora do pré-sal). Será o Ministério também que indicará a direção executiva da nova empresa. À Petro-Sal caberá a presidência do comitê gestor que supervisionará cada projeto de exploração, sob o regime de partilha. Em suma, o novo arranjo reduz ao mínimo o papel da ANP, cria uma outra estatal, sem que se saiba de onde virá a sua competência técnica, e dá muitos poderes ao Ministério de Minas e Energia.
À Petrobrás são reservados 30% de participação mínima obrigatória em qualquer consórcio, bem como o status de operadora única dos campos do pré-sal. Com isso se força a empresa a fazer investimentos que podem não lhe convir (uma das razões pelas quais a União busca tortuosamente capitalizá-la), fecha-se o espaço à maior participação privada e ampliam-se os incentivos a relações privilegiadas entre fornecedores e a estatal.
E a partilha? Como os custos de operação serão ressarcidos pelo governo, não afetando o lucro operacional das empresas, que dependerá exclusivamente do volume da produção e do preço do barril in natura comprado pelo governo, haverá menor incentivo à eficiência nos projetos de exploração. Haverá ainda, na melhor hipótese, uma tensão permanente entre o comitê gestor dos projetos, de um lado, interessado no menor custo de produção possível, e as empresas (inclusive a Petrobrás), de outro, não necessariamente interessadas. Ainda assim, admitindo que a partilha resulte em maior renda para o Tesouro, o que ainda não ficou provado, resta o problema da comercialização dos barris in natura pelo governo, mais um ponto de potenciais imbróglios político-empresariais.
Conclusão: sobram aspectos pouco claros no projeto, sobretudo quanto às suas consequências, e falta ainda debate profundo e prolongado para que possamos aprovar, com convicção e tranquilidade, uma lei que pretende alterar um regime de exploração até hoje vitorioso. É preciso discutir mais e melhor, no Congresso e na sociedade.

segunda-feira, setembro 14, 2009

O pré-sal num boteco do Leblon

JOÃO UBALDO RIBEIRO - O GLOBO - 13/09/09

– Que foi que houve cara, ganhou na mega-sena? Tu tá com uma cara de felicidade como há muito tempo eu não vejo, desde a data histórica em que o Fluminense ganhou um jogo. Tu não sabia que era o último, senão tinha festejado mais, né não?
– Dispenso gozação de flamenguista, estou acima disso. Agora, pensando bem, você não deixa de ter razão, eu devo estar com a cara feliz, não por nenhum acontecimento em especial, mas como se por alguma coisa que eu sentisse no ar.
– Se for um fedorzinho, eu também sinto, mas dizem que em Brasília é pior.
– Você não leva nada a sério, mas eu levo. Você me conhece, desde rapazinho que eu me preocupo com os problemas brasileiros, sempre fui um patriota. Você está certo, é como se eu tivesse ganho a mega-sena mesmo, todos nós ganhamos a mega-sena.
– Fundaram a Mega-sena Família, é isso? Agora quem se cadastrar vai ter direito a fazer um joguinho de graça por semana? Bem bolado, é isso que é a famosa distribuição da riqueza? Vai ter vale-mega-sena?
– Deixa de fazer ironia sem graça, cara, tu não tem o que dizer, a verdade é essa.
– Eu não tenho o que dizer de quê? Tu vem com essa conversa de que todo o povo tirou na megas-sena e quer que eu te leve a sério? Que é que tu andou bebendo antes de chegar aqui?
– Eu disse que tinha feito uma metáfora e você veio logo querer curtir com a minha cara. Mas eu não vou deixar o cinismo e a descrença me vencerem. Então eu retiro a metáfora, mas dá no mesmo. O fato é que nossa situação hoje é excepcional.
– A nossa, aqui do bairro, no momento é. Faz três dias que não se tem notícia de nenhum assalto aqui nas redondezas.
– Assim não dá pra conversar. Eu quero falar sobre uma coisa séria e você fica me interrompendo pra fazer gracinha. Eu não estou me referindo a assalto.
– Mas eu estou. Você vem com essa conversa de que nossa situação é excepcional e aí eu achei que só podia ser por isso. Acabaram os assaltos, não?
– Eu não estou me referindo a problemas de segurança pública.
– Porque não quer, porque quer que eles não existam, todo mundo quer isso, mas eles existem.
– É, assim não dá. Se a gente for falar em problema de segurança pública, não acaba nunca.
– Certo, certo, então vamos falar em educação. Nós estamos num momento excepcional, em matéria de educação? Todo mundo na escola, professores bem pagos e respeitados, todo mundo orientado, todo mundo educado. Eu pensava que estava tudo como antes e até um pouco pior, mas, a julgar pelo seu jeito, a educação vai muito bem.
– Você fica desviando o assunto, antes eu não estava falando em segurança e agora não estou falando em educação.
– Então fale em saúde. Vamos falar em saúde? Eu sei que qualquer um pode receber tratamento igual ao do presidente da República, eu ouvi ele dizendo isso. Mas você queria saber a história da mãe de minha empregada, que teve outro derrame enquanto esperava uma senha do SUS às quatro horas da manhã e morreu depois de esperar até o dia seguinte, numa maca no corredor do hospital?
– Cara, tu tá parecendo deputado da oposição. Se é para desviar o assunto, então não tem papo.
– Eu sei, teve as reformas. Teve a reforma agrária, a reforma política, a reforma eleitoral, a administrativa, a tributária, diz aí as outras, em qualquer setor que você pense, teve reforma.
– Lá vem você de novo, assim não dá mesmo.
– A política outro dia teve uma reformazinha, aumentaram o número de vereadores no Brasil todo. E a tributária, a tributária também é boa, tem bancos que não pagam imposto de renda e o Daniel Dantas recebe restituição do imposto de renda, ele mesmo contou.
– Eu já vi que hoje não adianta conversar com você. Mas eu lhe faço uma pergunta só, basta uma. O que é que você me diz do pré-sal?
– Eu, nada. E o que é que você me diz? Você entende desse negócio de pré-sal?
– Entendo o suficiente para saber que hoje nós temos uma das maiores reservas de petróleo do mundo. Não é para agora, é coisa para começar a dar frutos depois dos próximos dez ou quinze anos. Mas os nossos descendentes desfrutarão dessa riqueza, o futuro está garantido.
– O petróleo é o combustível do futuro? Eu pensava que eram os biocombustíveis e outros renováveis, mas agora mudou tudo, não foi? É, de fato mudou. Você quer que eu lhe diga o que foi que mudou?
– Pode dizer, finalmente você reconhece que alguma coisa mudou.
– Ah, nesse ponto mudou radicalmente: na época do biocombustível, não ia ter eleição, e agora vai. Mas vamos mudar de assunto, eu passei a te entender melhor do que entendia, antes deste nosso papo.
– Agora mostra aí aquela tua prova matemática de que o Fluminense não vai pra segundona.

O Leigo

LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - O GLOBO - 13/09/09

“Leigo” é o nome genérico de quem não está entendendo. Na sua origem “leigo” era sinônimo de “laico”, o contrário de “clérigo”, um cristão que não pertencia à hierarquia da Igreja. Com o tempo a palavra passou a identificar quem está por fora de qualquer assunto, e não apenas os eclesiásticos. O Leigo é mal informado, ingênuo e simplista. As coisas precisam ser explicadas com muita clareza ao Leigo, e mesmo assim ele custa a compreendê-las. Ele próprio costuma invocar sua condição e dizer “Sou leigo na matéria” quando se vê diante de um desafio intelectual. Diz muito isto. Porque tudo é um desafio intelectual para o Leigo.
Mas o Leigo nos presta um grande serviço. Como seu raciocínio é simples, ele muitas vezes faz as perguntas óbvias que nós não fazemos para não parecermos simples. Há anos, por exemplo, não entra na cabeça do Leigo por que as tais “riquezas naturais” brasileiras de que ouvimos faltar desde a escola não enriqueceram o Brasil, ou pelo menos melhoraram a vida da maioria dos brasileiros, que, ao contrário, parece piorar quanto mais as riquezas são extraídas e exportadas. O Leigo nunca entendeu a venda, que mais pareceu uma doação, da Vale do Rio Doce, como nunca entendeu a campanha antiga e sistemática para desacreditar e doar a Petrobras. Agora o Leigo – na sua ingenuidade – não está entendendo essa discussão sobre o controle estatal do petróleo do pré-sal e o destino a ser dado ao produto da sua exploração, como se não estivesse na cara o que precisa ser feito.
No plano internacional, o Leigo imagina que se todo o dinheiro gasto no comércio de armas fosse aplicado em projetos sociais, acabaria a miséria no mundo. Você e eu, que somos pessoas sofisticadas e por dentro, sabemos que o mundo não funciona assim, com esse altruísmo simétrico. Que se não gastasse com armas o mundo só gastaria em bebida e mulheres. E essa de que um país com os problemas sociais do Brasil não tem nada que estar comprando submarino atômico só pode ser coisa do Leigo. Bendito Leigo.

DUNGA

No Brasil, como se sabe, ninguém é leigo em futebol. Todos são clérigos, ninguém é laico. Mas os últimos sucessos da seleção criaram uma cisão entre os eclesiásticos com relação ao Dunga. Há os que os fatos obrigaram a aceitá-lo, e os que nada os fará aceitá-lo, muito menos os fatos.

quinta-feira, setembro 10, 2009

O Brasil brilhou

PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. - FOLHA DE S.PAULO - 10/09/09

Leitor, leitora , hoje não sei realmente por onde começar.
Normalmente, gosto de separar material, estatísticas, estruturar o artigo etc. Hoje, não dá tempo para nada disso. O horário-limite da Folha se aproxima -é sentar na frente do computador e escrever. Isso a título de desculpa. Bem.
Retomo o assunto da semana passada. Como previ no artigo da última quinta, para nós o aspecto mais importante das reuniões do G20 em Londres acabou sendo mesmo o encontro dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) na sexta-feira. A reunião de sábado, dos ministros de Finanças e de presidentes de BCs do G20, terminou em 0 a 0.
Dentro da rotação estabelecida entre os quatro países, cabia ao Brasil presidir a reunião dos Brics. Posso ser franco? O Brasil brilhou.
Tudo funcionou dentro do planejado. Desde a preparação do comunicado, passando pela cuidadosa negociação do texto entre as quatro delegações, por toda a logística e infraestrutura do encontro a cargo da nossa embaixada em Londres, até a condução das discussões pelo ministro da Fazenda do Brasil, terminando na coletiva de imprensa da qual participaram os quatro ministros -tudo saiu muito bem.
Como foi noticiado, o secretário do Tesouro dos EUA pediu para comparecer à parte final da reunião -um reconhecimento da importância crescente que vêm adquirindo os Brics. O diálogo com o representante americano foi conduzido com grande habilidade pelos quatro países, em especial pelo Brasil, que comandava o encontro.
O leitor sabe que o brasileiro, apesar de tudo, é um pobre e humilde ser. O complexo de vira-lata -não adianta negar- está sempre à nossa espreita. Assim sendo, confesso lisamente: fiquei orgulhoso.
Posso confessar que fiquei até emocionado? Pois fiquei. Pode ter sido -quem sabe?- apenas um efeito do esgotamento decorrente do excesso de trabalho e viagens.
Em todo caso, saí da reunião dos Brics com a esperança de que se consiga fazer progresso na reunião dos líderes do G20 em Pittsburgh, nos próximos dias 24 e 25 -em especial no que diz respeito à reforma do FMI que é, como expliquei no artigo da semana passada, uma das prioridades (talvez a prioridade) do Brasil para Pittsburgh.
Paro e releio o que escrevi. Não quero cortar nada, mas devo fazer algumas ressalvas. Primeiro, vale lembrar a advertência de Chamfort, filósofo francês do século 18: "A esperança não passa de um charlatão que não para de nos enganar; para mim, a felicidade só teve início quando a abandonei". E acrescentou: "De bom grado, colocaria na porta do Paraíso as palavras que Dante colocou na do Inferno: "Lasciate ogni speranza, voi ch'entrate" (abandonai toda esperança, vós que entrais)". Temos uma árdua escalada pela frente. A resistência da Europa será um obstáculo difícil de transpor. A coordenação com Rússia, Índia, China e outros países em desenvolvimento é uma batalha quase diária. Com os EUA e outros países desenvolvidos temos interesses comuns em matéria de G20 e FMI, mas será preciso usar todos os nossos recursos de persuasão e argumentação.
Quem quiser ter uma ideia mais precisa dos objetivos que buscaremos em Pittsburgh pode consultar o comunicado dos Brics, cuja íntegra está em www.fazenda.gov.br. Demorei a encontrar um título para o artigo. Espero que a escolha não pareça ufanista. De todo modo, o que importa mesmo é saber se conseguiremos sustentar a performance nas próximas semanas.

terça-feira, setembro 08, 2009

Milonga de Amor.

Raramente recordava-se de seus sonhos, contudo, naquela manhã não somente assimilara òs detalhes, como também tinha a estranha sensação de ter fisicamente vivenciado todos aqueles momentos fantasiosos. Estava consciente que, o realismo mágico do enredo de sua atividade onírica da noite anterior, era fruto de sua confusão sentimental momentânea. Enquanto tentava concentrar-se na leitura do periódico, refletia que, em se tratando de amores, vivemos sob uma certa ditadura de decisões definitvas, e nesse padrão de escolhas peremptórias é praticamente impossivel qualquer outra opção comportamental.  O fato é que toda encruzilhada da vida é mais um capítulo adicionado ao livro do que "Poderia ter Sido". E quase todos os dias nos deparamos com escolhas importantes, irreversíveis até, do ponto de vista de influência na vida cotidiana. Os 15 minutos dormidos a mais de manhã, o tempo do banho, a demora e a escolha da roupa, descer de elevador ou de escada, tomar café na padaria da esquina ou ir direto pro escritório, enfim, todas essas decisões aleatórias, podem definir (e definem) as condições futuras. Todavia, essas escolhas e suas conseqüências estão diluídas na massa homogênea do roteiro cotidiano, o complicado é a escolha onde o divisor de águas é notório e claro, quando um fato é crucial, de vida ou de morte, isso ocorre quando o estigma cultural transforma mais uma decisão aleatória em algo decisivo para nossa continuidade harmônica enquanto indivíduos sociais. 
Não tinha costume de ler a sessão de horóscopos, mas talvez por estar tão absorto em todos esses pensamentos, de maneira a impedir a leitura consciente das noticias do dia, partiu para a leitura das amenidades do zodíaco, e o seu dizia algo nessa linha: ".... No campo afetivo, preste mais atenção nas consequências de suas atitudes, não basta ter sentimentos belos, mas também, e principalmente, assumir a responsabilidade de seus impacto a terceiros." Aquela foi a primeira - e talvez a última vez - que se sentiu tocado por aquela tal Astrologia...

A impunidade da ignorância.

CLÓVIS ROSSI - FOLHA DE SÃO PAULO - 08/09/09

LONDRES - Pelo choque que me causou, repasso ao leitor o essencial de artigo do escritor espanhol Rafael Argullol para "El País".
Começa relatando que alguns dos melhores professores universitários espanhóis estão se aposentando "precipitadamente". Cita dois motivos: "o desinteresse intelectual dos estudantes e a progressiva asfixia burocrática da vida universitária".
Explico o sentimento de choque: não sei se a situação ocorre também no Brasil, mas sei que o caldo de cultura descrito por Argullol é parecido no Brasil (como, aliás, no resto do mundo).
Os professores, escreve Argullol, "se sentem mais ofendidos pelo desinteresse [dos estudantes] do que pela ignorância". Acrescenta que um amigo lhe disse que "os estudantes universitários eram o grupo com menos interesse cultural da nossa sociedade, e isso explicava que não lessem a imprensa escrita, a não ser que fosse de graça, que não buscassem livros fora das bibliografias obrigatórias, ou que não assistissem a conferências se não fossem premiados com créditos úteis para serem aprovados".
É o triunfo do que o escritor chama de "utilitarismo". Os estudantes são adestrados na "impunidade ante a ignorância", porque o conhecimento é um "caminho longo e complexo" e perde para o imediatismo da posse instantânea.
Não tenho informações para afirmar se essa situação ocorre também no Brasil. É evidente, em todo o caso, que há ou houve recentemente uma discussão sobre a asfixia burocrática.
Gilberto Dimenstein já comentou, tempos atrás, o fato de que professores de universidades públicas estavam se aposentando cedo e passando ao ensino privado.
O utilitarismo e o predomínio do individual são características contemporâneas globais. Estamos nós também cevando "a impunidade ante a ignorância"?

sexta-feira, setembro 04, 2009

Vizinhos.

Neighbours (1952), foi premiado com o Canadian Film Award (melhor curta), e também com o Oscar de melhor curta-documentário, e assim como em trabalhos pregressos, também teve uma motivação política, como o próprio Norman Mclaren declarou:

"I was inspired to make Neighbours by a stay of almost an year in the People's Republic of China. Although I only saw the beginnings of Mao's revolution, my faith in human nature was reinvigorated by it. Then I came back to Quebec and the Korean War began. (...) I decided to make a really strong film about anti-militarism and against war."

Contudo, a versão vencedora do Oscar não foi a versão original, pois McLaren foi solicitado a retirar a cena em que os homens (vizinhos) atacam e matam a família um do outro.

Durante a guerra do Vietnã, devido às mudanças de posição da status quo, foi solicitado o inverso a McLaren, para que ele restabelece a sequencia original ao produto final.
Abaixo a versão integral:


Você diz alô, eu digo adeus.

FERNANDO GABEIRA - FOLHA DE SÃO PAULO 04/09/09

No momento em que o governo faz uma grande festa pelo pré-sal, a revista Foreign Policy'publica um número sobre o longo adeus do petróleo. É tão grande o impacto festivo que um prefeito de Pernambuco perguntou: “Já posso contar este mês com o dinheiro do pré-sal?” Ao governo interessa desinformar – para isso tem um grande aparato. Mas é fundamental nesse confronto fortalecer algumas teses. A primeira delas é de que o recurso do óleo deveria ser usado para nos libertarmos dele. Parece simples. No entanto, pesquisas indicam que um terço dos royalties é gasto por algumas cidades para aumentar a máquina administrativa. Isso quer dizer dar mais empregos e aumentar o poder dos grupos políticos locais. Fala-se em usar a Noruega como modelo econômico de exploração. Mas nada se fala no modelo de proteção ecológica de lá. O interessante é que o Estado não combinou com os russos, e o modelo talvez não seja atrativo para empresas. A Petrobras cuida de quase tudo, drenando imensos recursos que poderiam se voltar para a energia renovável. O importante é que houve uma grande festa. Alguns, como Sarney, saíram de sua pirâmide para celebrar; outros, como Dilma, de resguardo contra perguntas delicadas, reapareceram protegidos. Já havia legislação e toda uma história do petróleo no País. Mas a pressa em festejar parece maior que a de pesquisar e contabilizar os recursos para saber o que fazer com eles. A diferença entre Obama e Lula em energia está no ministro que escolheram. Lá é um Prêmio Nobel de Física; aqui é o Lobão, que prepara uma nova estatal, para a alegria de netos, filhos e amantes. Fazer um fogo e distribuir espelhinhos foi tática do poder desde a chegada dos portugueses.

Caramuru.

Acirra-se a disputa pela "picanha azul"

CLAUDIA SAFATLE - VALOR ECONÔMICO 04/09/09

O deputado Henrique Alves (PMDB-RN) já procurou os técnicos do governo para discutir como derrubar os artigos 49 e 50 do principal projeto de lei do novo marco regulatório do pré-sal. O parlamentar deve ser o relator do projeto que introduz o sistema de partilha de produção e, mesmo sem ter sido indicado oficialmente para a relatoria, já começou a discutir como substituir o que o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, arrancou de Lula no jantar de domingo, no Palácio da Alvorada.Estavam presentes no jantar que precedeu a divulgação do novo marco regulatório do pré-sal, na segunda feira, também os governadores de São Paulo, José Serra, do Espírito Santo, Paulo Hartung. Preparado para travar uma guerra, Cabral foi acompanhado por dois secretário: o de Desenvolvimento, Júlio Bueno, e da Fazenda, Joaquim Levy, ex-secretário do Tesouro Nacional e velho conhecido da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e do presidente Lula.A prefeita de Campos, Rosinha Garotinho, também procurou assessores do Ministério da Fazenda e das Minas e Energia, na quarta feira, para apresentar uma contraproposta ao texto do referido artigo que pode ser o ponto de partida para uma negociação no Congresso.O assunto envolve muito dinheiro e é complexo. Os dois artigos dizem que enquanto não houver uma lei específica mudando os royalties e a participação especial que vigora nas concessões, permanece tudo como está. Com esse dispositivo o Rio conseguiu garantir que os Estados produtores, os municípios confrontantes e os municípios com instalações necessárias à exploração do petróleo do pré-sal recebam, no regime de partilha de produção, o que receberiam se nessa área continuasse a vigorar o sistema de concessões.O projeto de lei original do Executivo remetia essa receita integralmente para o Fundo Soberano. O governo do Rio, na verdade, chegou ao encontro com Lula pedindo mais. A proposta, exposta por Levy, era de que coubesse aos Estados e municípios 50% do que a União apurar nas licitações. Lula quase cedeu.O ministro da Defesa, Nelson Jobim, presente ao jantar de domingo, fez a sugestão que prevaleceu, acalmando a tensão do governo do Rio. Os campos do pré-sal estão no mar territorial do Rio, São Paulo e Espírito Santo (a 300 quilômetros da costa). Desses, o Rio é o que concentra a maior área da "picanha azul", que é como o governo está chamando toda essa extensão, cujo formato é de uma suculenta picanha.Enquanto prevalecer o artigo 49, os Estados poderão ficar com 11,2% do que a União receber. Cálculo que pressupõe que, em cada bloco de exploração, 10% sejam distribuídos em royalties, 20% representem os custos da empresa contratada e 70% corresponda ao excedente de produção ("profit oil"). A cada licitação será definido que percentual dos 70% será destinado ao governo federal e que parte ficará com a empresa contratada.A sugestão de Rosinha Garotinho é de se fazer um regime misto. Do que couber à União nas licitações, 40% seria distribuído com base nos critérios da lei 9.748, que rege as concessões, e 60% seria integralmente da União. O que se fez para resolver o impasse criado pelo governador do Rio foi aplicar ao regime de partilha os mesmos cálculos usados nas concessões.Levy se baseou no artigo 20 da Constituição, que assegura aos Estados e municípios produtores participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural "ou compensação financeira por essa exploração". A compensação financeira pode ser feita mediante pagamento de royalties, por exemplo.A reunião no Alvorada foi longa. Por volta de 1 hora da manhã de segunda-feira Jobim ainda estava em uma sala do palácio com Levy, Bueno, os secretários de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, de Petróleo e Gás do Ministério das Minas e Energia, Marco Antônio Martins Almeida, e José Lima de Andrade Neves, presidente da BR Distribuidora. Lá, acrescentaram os dois artigos, apaziguando Cabral. Segundo relato de presentes, Serra e Hartung pouco se manifestaram sobre esse aspecto da lei.Dilma e o ministro Edison Lobão, também reunidos no jantar, não gostaram do arranjo de última hora de Levy e Jobim.Depois dessa vitória, para Cabral o jogo recomeça do zero. Acredita-se, no governo, que o Rio será "trucidado" no Congresso (segundo um qualificado assessor de Lula) pelas bancadas dos outros 26 governadores que também querem uma parte do dinheiro do pré-sal, por entenderem que a riqueza é do país e não apenas dos três Estados.Será uma batalha convencer o Congresso que, numa produção de R$ 100,00 num poço do pré-sal, supondo que a União receba 80% do excedente, a aplicação dos artigos 49 e 50 resultará numa distribuição em que caberá aos 24 Estados fora do pré-sal e aos milhares de municípios, R$ 0,875 (a título de royalties). A União ficará com 45% e o restante, afora os custos, será distribuído entre os Estados produtores do pré-sal (quase 27%0 e os seus respectivos municípios (5,5%).

Mi querida Argentina

Roberto Luis Troster - Valor Econômico - 04/09/2009

A Argentina vive momento tão ruim que o Papa Bento XVI disse recentemente que: "a pobreza na Argentina é um escândalo"
Era uma vez um país. Tinha e ainda tem tudo para se desenvolver: terras férteis, minérios, água abundante, fontes de energia, infra-estrutura industrial, bons vizinhos e capital humano. Tem destaques em todas as áreas do saber, alguns com reconhecimento internacional como quatro prêmios Nobel e autores traduzidos ao português. Um gênero publicado é o realismo fantástico, que mostra o absurdo como algo comum e crível.
Paradoxalmente, a realidade atual da Argentina supera a imaginação de seus escritores mais criativos. A cada dia que passa, mais um passo em direção ao desastre. Poder-se-iam escrever livros sobre o desmantelamento de seu futuro e as explicações absurdas. O trágico é que a trama é real e atual. Tudo começou há dois anos, com o que parecia ser a saída de uma crise.
Cristina Fernández de Kirchner assumiu em dezembro de 2007 com credenciais e condições de fazer acontecer. Era uma política conhecida nacionalmente, antes do marido ser candidato a presidente, e fez parte da geração que derrubou o governo militar em 1973, protestou no interregno populista e combateu a ditadura militar que se instalou em março de 1976 onde alguns lutaram até a morte por uma Argentina desenvolvida.
Foi eleita com amplo apoio popular e obteve maioria nas duas câmaras e nos governos provinciais. O país estava crescendo 8% ao ano com reservas folgadas, superávits fiscal e externo e havia a necessidade de correção de rota na condução da economia. Seus desafios eram três: normalizar o relacionamento com as finanças globais; manter o crescimento com investimentos e melhorar a inclusão social; enfim colocar racionalidade na política econômica vigente. Falhou. A bem da verdade, retrocedeu e o que poderia ser o fim de uma crise, se transformou no início de outra.
O default argentino não foi bem recebido no mundo bancário, mas foi visto como mandatório, o país estava num beco sem saída. A troca de papéis antigos por novos foi feita e era esperada uma regularização gradual das relações com o resto do mundo. A melhora nos termos de troca deu a folga de recursos que permitiria uma aproximação da comunidade financeira internacional. A atuação foi diametralmente oposta. O resultado é que os investimentos e empréstimos externos não retornaram e é um dos poucos países com fuga de capitais na atualidade. É difícil de acreditar que esteja acontecendo, considerando seu potencial.
A política econômica populista e míope está encolhendo seu futuro. Um exemplo emblemático é o tratamento dado à agropecuária, que foi um dos propulsores do crescimento na última década; a fertilidade natural dos pampas combinada com as novas tecnologias biológicas e empresariais elevaram sua produtividade a patamares inimagináveis. A atitude do governo foi de matar a galinha dos ovos de ouro com impostos escorchantes e restrições de acesso a mercados. Por primeira vez na história, a Argentina deve importar carne e trigo para consumo interno no ano que vem. A justificativa do governo é a de que combate as oligarquias e os latifúndios, um discurso da década de 1940.
Em outros setores o padrão é parecido: ausência de reformas, aumento da carga tributária e da burocracia. O ambiente macroeconômico se deteriorou rapidamente com a inflação acelerando, gastos públicos crescendo a taxas maiores que as receitas e dólar e desemprego subindo. A solução foi a tentativa de tabelamento de preços, o congelamento de tarifas com subsídios e a intervenção no Indec (o equivalente ao IBGE) acompanhada de denúncias de manipulação de estatísticas. Com números oficiais de crescimento e inflação melhores e credibilidade menor, a tensão com o setor produtivo aumentou e a popularidade do governo despencou.
Nas eleições legislativas de junho último, apenas 30% dos votos foram para candidatos governistas e o índice atual de rejeição à presidenta é de 50%. Surpreendentemente, sua reação foi de acelerar na direção errada. Já que falta pão, investe-se no circo. Com um discurso de que alguns empresários "seqüestram gols" (fazendo um paralelo com a ditadura militar), cancelou os contratos de transmissão de jogos em TV a cabo e fez um patrocínio equivalente a R$ 300 milhões por ano, para que as partidas de futebol sejam transmitidas pelos canais abertos. Mais déficit para gastos que não vão fazer sua popularidade crescer.
A lista de exemplos de falta de racionalidade é extensa. Estatizou-se a Aerolineas Argentinas que tinha um prejuízo diário de menos de R$ 2 milhões, hoje já está em R$ 5 milhões por dia; os que não voam pagam impostos para os passageiros. Tributa-se o jogo em 15% e a agropecuária em até 35%. Estatizou-se a previdência privada com o discurso de proteção a seus mutuários sem um cálculo atuarial e apropriando-se dos fundos agora e repassando os custos para os próximos governos. Resumindo, a economia está em rota de colisão. Já se fala na possibilidade de um novo default. Algo inimaginável há pouco tempo.
É um populismo tão míope que a situação dos pobres piorou. O Papa Bento XVI disse recentemente que: "a pobreza na Argentina é um escândalo". Não se sabe qual é o grau, pois os números do Indec falam em 15% e os da UCA em 39% da população nessa situação. A única certeza é que o casal Kirchner não corre o risco de ser incluído nessa estatística, pois seu patrimônio pessoal aumentou e bem. Não houve falta de racionalidade na condução dos negócios familiares. O ponto é que a verdadeira crise do país fica mais nítida a cada dia.
Se a notícia é ruim, mata-se o mensageiro. Este é o espírito do projeto da lei de radiodifusão que está sendo apresentado no congresso esta semana. A lei limita o número de canais que uma empresa pode ter, determina que apenas um terço seja de empresas privadas e impõe a renovação da licença a cada dois anos (leia-se uma ameaça permanente à liberdade de expressão). A justificativa é a necessidade de desmonopolizar o setor e em memória de 118 jornalistas desaparecidos.
Falta o projeto mais importante, o da Argentina sonhada na virada da década de 1970 também dedicado aos mesmos 118 desaparecidos, bem como aos demais que morreram, às dezenas de milhares que emigraram e aos milhões que moram lá. Um projeto ambicioso, consistente com o potencial de seu país e seu povo. As condições para um final feliz existem.

quarta-feira, setembro 02, 2009

Quem vai dançar o tango?

TOSTÃO - JORNAL DO BRASIL - 02/09/09

O Brasil possui hoje melhor conjunto e melhores jogadores do que a Argentina. O Brasil está pronto para disputar o Mundial, com boas chances de vencer. A Argentina ain da não definiu um esquema tático, nem vários titulares e reservas.
A grande dúvida da Argentina, que vem antes de Maradona ser o técnico, é se o time joga com Messi e mais dois ou um atacante. Nesse último caso, entraria outro jogador de meio de campo. A dúvida é parecida com a do Brasil, quando Ronaldinho era convocado. Dunga não sabia se escalava Robinho, Kaká e Ronaldinho juntos ou se trocava Ronaldinho por mais um armador, para melhorar a marcação.
Sábado, o que será mais decisivo: jogar em casa, a necessidade de vencer e a pressão que a Argentina deve fazer ou a excelente defesa e os ótimos contra-ataques do Brasil? Assim, o Brasil ganhou várias vezes da Argentina e goleou, fora de casa, o Uruguai. Já contra Pa ra guai e Equador, o Brasil foi pressionado e só não perdeu porque Júlio César fez extraordinárias defesas.
Como disse Maradona, Maicon é um trator. Sua atuação contra o Milan foi espetacular. Ainda há muitos no Brasil que não gostam do lateral. Deve ser porque ele é alto, forte e pouco habilidoso. Além da força física, Maicon possui ótima técnica. Na última partida contra a Argentina, no Mi neirão, Gutiérrez entrou em campo só para anulá-lo. Con seguiu. Sábado, Gutiérrez estará fora, contundido.
Na Inter, Maicon e Zanetti formam uma ótima dupla. Maicon, de lateral, e Zanetti, de armador, pela direita. Na seleção da Argentina, Zanetti é lateral. Não há outro. Zanetti não tem mais a juventude e a força física para de fender e atacar.
Na lateral esquerda, André Santos ainda não garantiu seu lugar, mas é melhor que os laterais da Argentina, Heinze e Papas.
O meio de campo da Argentina, com Mascherano, Gago e Verón, é superior ao do Brasil. Essa diferença diminuiu após a entrada de Felipe Melo.
Agüero é outra grande esperança dos argentinos. Está cada dia melhor. Ele e Luís Fabiano mereciam jogar em um dos principais times da Europa.
Recebi críticas por escrever que a seleção não tem um bom substituto para Robinho. Seria Ro naldinho, ou mesmo Diego, que entraria no lugar de Kaká, e esse, no de Robinho. Os dois não têm sido convocados. Não há outros. Ronaldinho virou outro jogador, e Diego não conseguiu um lugar na seleção. Mesmo quando atua mal, Robinho, por se movimentar muito, facilita para os companheiros.
A Argentina tem Messi, e o Bra sil tem Kaká. Dois craques. Pos suem ótima técnica. Messi é mais habilidoso e mais encantador. Kaká é mais alto, forte e utiliza muito bem sua força física.
Antes da Copa de 2002, a Argen tina estava muito melhor que o Brasil. A Argentina foi eliminada na primeira fase, e o Brasil foi campeão mundial. Portanto, não é momento para euforia, mesmo se o Brasil ganhar bem.
Se perder, e os concorrentes ven cerem, a Argentina ficará em uma situação bastante difícil. Seria triste uma copa sem a Argentina e sem Messi. Só restaria aos argentinos chorar e dançar um tango.

Marcha da insensatez

FERNANDO RODRIGUES - Folha de S. Paulo - 02/09/2009

É real a possibilidade de o Senado aprovar hoje a chamada reforma eleitoral. O texto voltará para a Câmara e será rapidamente analisado pelos deputados. Vai valer já nas eleições de 2010.Ruim ou inócuo quase do começo ao fim, o aspecto mais nocivo do projeto são as limitações ao livre uso da internet durante o período eleitoral do ano que vem. Num misto de ignorância e má-fé, os congressistas decidiram equiparar a web à TV e ao rádio.Para quem não chegou hoje de Alfa Centauro, a anomalia é conhecida durante anos eleitorais. O apresentador de telejornal ou de um noticiário em rádio, num momento, começa a recitar os nomes e agendas de todos candidatos, um a um. Entram todos. O político nanico sem a menor relevância, o escroque, o "boca de aluguel" a serviço de alguém. Não importa. Os programas jornalísticos em TV e rádio estão obrigados, por força da lei, a dar espaço a esse trem fantasma que só existe por causa dessa exigência.Agora, com a nova lei prestes a ser aprovada, a internet terá de se submeter a uma tutela idêntica. Portais, sites e blogs não poderão atrever-se a fazer entrevistas com os principais candidatos. Mesmo sendo empresas privadas, e não concessões públicas, terão de ceder espaço equânime a todos.Debates em vídeo na internet também seguirão a mesma regra.Todos os candidatos terão de ser convidados. Se um não aceitar, nada feito. Se todos aceitarem, assiste-se a um encontro inútil. Os gênios por trás desse monstrengo são Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e Marco Maciel (DEM-PE). Mas Aloizio Mercadante (PT-SP) também esteve ontem na reunião na qual tramou-se a aurora boreal do atraso.De todas as estripulias na política neste ano, essa é a pior. Condenará o país para sempre a ter uma internet manietada em anos eleitorais.

terça-feira, setembro 01, 2009

Linhas Paralelas =

Já conhecia a dupla canadense Junior Boys, formada por Jeremy Greenspan e Matt Didemus, porém, ignorava a forte influência de Norman McLaren em seu trabalho, como o próprio Greenspan declara:

"Todas as coordenadas de meus interesses e minhas idéias convergiram a Norm McLaren, por alguma razão. Eu estava ouvindo muito dessa música experimental de sintetizador, e ele mesmo foi um inovador completo, criando essas sínteses sonoras que ninguém nunca tinha feito antes"; "...Eu quis usá-lo como uma analogia a tudo que eu queria ser como artista, tudo que pensei ser importante".

O título do terceiro disco da banda, 'Begone Dull Care' é o nome de uma animação de oito minutos do artista (1949), que pintava diretamente sobre o rolo de filme em movimento, e com ranhuras em suas bordas criava curiosas interferências eletrônicas ao rodar a película no projetor.

Abaixo, ótimo vídeo da faixa de abertura 'Paralell Lines', que dentre outras influências, me remeteu sobretudo a Blondie.


O dogma Lula é irrevogável

ARNALDO JABOR - O GLOBO - 01/09/09

Por que Aloizio Mercadante não manteve sua "irrevogabilidade"? Porque não teve coragem de enfrentar Lula.
Mas, por que não teve? A razão é a mesma que acomete muitos intelectuais "não petistas" : Lula é "inatacável".
Poucas pessoas têm coragem de contestar um ex-operário, aparentemente honesto, que muito sofreu para chegar onde está. Além disso, Lula tem a cor do que seria a pátina da "revolução", de uma "justiça social" vaga.
Por isso, pergunto-me: será que os intelectuais não veem que nossa democracia conquistada há vinte anos está sendo roída pelos ratos da velha política?
Não se trata (nem estou pedindo) que esculachem o presidente.
Lula tem várias qualidades, mas está usando só os seus defeitos: autoritarismo de Ibope alto, "lua de mel consigo mesmo", confusão conceitual no ensopadinho ideológico do "lulismo" (discursos populistas e práticas oportunistas), ausência de um plano concreto, além do virtual e midiático PAC, alianças com os mais sujos para "governar" e ficando incapaz de fazê-lo pelas mesmas alianças que agora o manietam.
A atitude de Lula de se colocar "acima" da política como sendo "coisa menor" é uma sopa no mel para corruptos e vagabundos. No dia seguinte à absolvição de Sarney, o PMDB não deu trégua e já quer mais emendas orçamentárias, no peito.
Alguns intelectuais ficam "angustiadinhos": "Ah...eu tinha um sonho...que se esfumou..." - choram os militantes imaginários, e nada fazem. A covardia intelectual é grande. Há o medo de ser chamado de reacionário ou careta. Todos continuam com a mania de que são "radicais" (como ser, por exemplo, corintiano doente).
Continuam ativos os três tipos exemplares de "radicais": os radicais de cervejaria, os radicais de enfermaria e os radicais de estrebaria. Os frívolos, os burros e os loucos. Uns bebem e falam em revolução; outros zurram e os terceiros alucinam. Padecem da doença herdada (resistente a antibióticos) de um voluntarismo com ecos stalinistas, cruzada com o germe do sindicalismo oportunista. Para eles, "administrar" é visto como ato menor, até meio reacionário, pois administrar é manter, preservar - coisa de capitalistas.
Lula é dogma. Diante dele, abole-se o sentido crítico. É como desconfiar da virgindade de Nossa Senhora. Fácil era esculhambar FHC.
Volto a dizer: não quero que "demonizem" Lula; pelo contrário, quero até que o ajudem nessa armadilha em que o país (e ele) caiu por sua atitude.
Lula viaja nessa maionese ambivalente (que até a "The Economist" denuncia) de leninismo sindicalista com apresentador de TV, um "mix" de Waldick Soriano com Getúlio.
Com essas alianças, Lula revigorou o pior problema do país: o patrimonialismo endêmico, que tinha diminuído depois de FHC. Temos agora uma espécie de "patrimonialismo de Estado": boquinhas para pelegos (200 mil) e pernas abertas para o PMDB.
Estamos diante de um momento histórico gravíssimo, com os dois tumores gêmeos de nossa doença: a direita do atraso e a esquerda do atraso. Como escreveu Bobbio, se há uma coisa que une esquerda e direita, é o ódio à democracia.
Essa crise é tão sintomática, tão exemplar para a mudança do país, que não podia ser desperdiçada pelos pensadores livres. É uma tomografia que mostra as glândulas, as secreções do corpo brasileiro - um diagnóstico completo. Esse espasmo de verdade, essa brutal explosão de nossas vísceras, talvez seja perdida porque as manobras do atraso de direita e do atraso de esquerda trabalham unidas para que a mentira vença.
E intelectuais sérios, artistas famosos e celebridades não abrem a boca. Onde estão os velhos manifestos de que eles gostavam tanto?
Quando haverá manifestações da sociedade para confrontar a ópera bufa que rola à nossa frente? As denúncias foram todas provadas, a imprensa denuncia e é ameaçada, enquanto os canalhas se sentem protegidos pelo labirinto do Judiciário. E não se trata mais de mensalões e mensalinhos, netinhos ou netinhas nomeadas; trata-se da implosão de nossas instituições republicanas, feita pelos próprios donos do poder.
O Brasil está entregue à mentira oficializada, manipulada pelo governo e o Legislativo, num jogo de "barata-voa" com as denúncias, provas cabais, evidências solares, tudo diante dos olhos impotentes da opinião pública. E homens notáveis do país estão calados. Quando se manifestam isoladamente, são apenas suspiros esparsos, folhas de outono, lamentos doloridos...
Mudar é trair, para os tais "radicais" dos três tipos. Ninguém tem coragem de admitir a invencibilidade do capitalismo global, com benesses e horrores (como a vida). Ninguém abre mão da fé em utopias ridículas - o presente é chato, dá trabalho; preferem um futuro imaginário.
Não admitem que um "choque de capitalismo" seria a única bomba a arrebentar a casamata paralítica do Estado inchado, gastador e ineficiente, e que isso seria muito mais progressista que velhas ideias finalistas, esse "platonismo" de galinheiro sobre o "todo, o futuro, o ser, a história". Eles não abrem mão dessa "elegância" filosófica ridícula. Só pensam no que deveria ser e não enfrentam o que inexoravelmente é. Preferem a paz de suas apostilas encardidas. Há uma grande indigência teórica sobre o Brasil contemporâneo. Ignoram a estrutura colonial e preferem continuar com teses mortas.
O mito do messianismo é muito forte, com sua origem religiosa. Não entendem que o homem de "esquerda" de hoje tem que perder fé e esperança, e que o verdadeiro progressista tem de partir do não-sabido e inventar caminhos.
Só uma força plebiscitária poderá mover essa grande pizza envenenada.
Por isso, pergunto, como os antigos: quando haverá uma manifestação séria da opinião pública? Uma ação continuada de notáveis da República para impedir esse jogo de carniça entre os Três Poderes, essa vergonha que humilha o Brasil? Vamos continuar de braços cruzados?

O Brasil é o país do futuro...





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Em algum lugar do passado.

sexta-feira, agosto 28, 2009

Pontos.

Há vários anos ouço falar da excelência das obras de Norman McLaren, mas apenas recentemente tive o prazer de assistir aos seus curtas-metragem, e fiquei embasbacado com o vanguardismo impresso em sua arte. McLaren era escocês e se fez notório na década de 1930 na Europa, e na década seguinte fez carreira nos EUA e sobretudo Canadá.

Dots, o curta de animação abaixo, é de 1940 e já é produto americano. Lembrando que, neste período a segunda guerra eclodia na Europa, Roosevelt era presidente nos EUA, Jackie Robinson se destacava por ser o primeiro negro a disputar a liga americana de baseball, e, "E o Vento Levou" estourava nos cinemas.


quarta-feira, julho 29, 2009

Cinema de autor?



"Há 7 elementos cruciais na feitura de um filme, por ordem alfabética: o ator, o câmera, o desenhista de produção, o diretor, o montador, o produtor e o roteirista."






"Peter Benchley lê um artigo de jornal sobre um pescador que capturou um tubarão de 2.500Kg na costa de Long Island, e fica se perguntando o que aconteceria se o tubarão achasse ali um bom lugar para morar. Aí vai e escreve um romance sobre o assunto. Zanuck-Brown compram os direitos de filmagem desse livro. Benchley e Carl Gottlieb o transformam num roteiro. Bill Butler é contratado para fazer a fotografia. Joseph Alves Jr., para o desenho de produção; Verna Fields, para a montagem; e, talvez mais importante do que tudo, Bob Mattey é tirado de sua aposentadoria para construir o monstro. E John Williams compõe aquele que talvez seja seu mais memorável score. Bem, em nome de quê Steven Spielberg pode ser o autor do filme? Mas, quando se fala do filme, fal,a-se de 'Tubarão, de Steven Spielberg'."

Este exemplo de como as coisas funcionam no cinema, talvez seja o cerne principal do livro "Adventures in The Screen Trade" (1984), do escritor e roteirista William Goldman. Alguns podem dizer que escreve em nome de uma causa própria, já que ele próprio é uma grande "vítima" da ditatorial Teoria do Autor, alguns exemplos mais notórios: Butch Cassidy, um filme de George Roy Hill; All the president's Men, um filme de Alan J. Pakula; Marathon Man, um filme de John Schlesinger... Embora Goldman seja roteirista de todos e, como é comum no cinema americano, entrou em cada um desses projetos muito antes do diretor sequer ser escolhido, nunca ficou vinculado ao sucesso da obra final.

Goldman relembra uma entrevista de Godard alguns anos antes, onde admite que ele e Truffaut nunca acreditaram de verdade naquela história do autor, e só a inventaram para chamar atenção sobre si próprios e infernizar a vida dos veteranos do cinema francês, cujo lugar pretendiam ocupar (e de fato ocuparam). Por fim, Goldman lamenta a retumbante vitória da teoria do autor pois já há vários anos jão nem se fala mais nela. Não é mais preciso. Para a mídia e para o público, o diretor é o único e verdadeiro autor, mesmo que estreante e solidamente imaturo.

Leitura essencial para apreciadores da arte cinematográfica.

segunda-feira, julho 20, 2009

Caras-pintadas-de-branco

Por IGOR GIELOW

BRASÍLIA - Em agosto de 2005, usei o termo do título acima neste espaço para descrever a metamorfose da UNE em mais uma filial chapa-branca de apoio ao governo Lula. Na época, o Planalto submergia na lama do mensalão.
Passados quase quatro anos, o comportamento da UNE em seu congresso encerrado ontem deu nova dimensão à observação.
Bancados pela Petrobras, os "estudantes" protestaram contra a CPI que visa investigar a estatal.
Na palavra de seus dirigentes, uma coisa nada tem a ver com a outra, o "petróleo é nosso" e afins.
Hoje as verbas federais se igualam à receita das carteirinhas de estudante na composição do cofre da UNE.
Em 2005, disse que a entidade "jogava sua história no lixo" ao apoiar cegamente Lula no mensalão.
Talvez tenha sido generoso.
Se merece análise o seu papel na ditadura, geralmente a UNE é mais associada à campanha pelo impeachment de Fernando Collor em 1992.
O jornal britânico "The Observer" publicou uma ótima reportagem ontem sobre a mitificação ocidental da "revolução" que derrubou o comunismo na Romênia 20 anos atrás.
Nem em Timisoara alguém acredita hoje ter havido tal coisa.
Ceaucescu caiu em um golpe palaciano, e a vida seguiu.
Mas a "revolução" ainda é comemorada.
Da mesma forma, a UNE até hoje diz ter derrubado o presidente em 1992.
Com esse aval, digamos, defende sua importância e a necessidade de ter atendidas demandas, entre um "Fora Yeda" e outro, como a volta de algum controle sobre emissão das carteirinhas.
Sintomaticamente, propostas efetivas para o ensino inexistem.
Collor foi a razão de ser do ressurgimento da UNE depois da ditadura.
Agora, em sinal trocado, Lula assume o posto e consolida o peleguismo da entidade.
Faz mais do que um sentido que os dois antigos adversários se abracem por aí.

Jornal Folha de São Paulo - 20/07/09

quarta-feira, julho 15, 2009

Comércio exterior terá cadastro positivo em dois meses

Brasília.

O governo vai criar, até setembro, uma espécie de cadastro positivo no comércio exterior. Trata-se da figura do Operador Econômico Autorizado (OEA), já existente em Japão, Estados Unidos e União Europeia, que receberá tratamento diferenciado dos chamados órgãos anuentes — Receita Federal e ministérios da Saúde, do Meio Ambiente e da Agricultura, entre outros.
Os benefícios incluem simplificação de procedimentos, despacho mais rápido, redução de prazos e prioridade na emissão de licenças, desde que a firma tenha um histórico de regularidade, esteja em dia com suas obrigações tributárias e siga as normas vigentes. O objetivo é desafogar operações de vendas e compras externas equivalentes a nada menos que 60% do fluxo comercial brasileiro (soma das exportações com as importações), ou US$ 75,5 bilhões de um total de US$ 125,9 bilhões, levando em conta o primeiro semestre deste ano. Isso se as cem maiores empresas exportadoras e importadoras aderirem ao regime. — A burocracia é uma das principais queixas de exportadores, importadores e investidores.
Nossa meta é reduzi-la o máximo possível — disse ao GLOBO a secretária-executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex), Lytha Spíndola. Fiscalizações serão feitas por amostragem Segundo Lytha, a adesão ao cadastro será voluntária. A medida beneficiará exportadores, importadores, depositários, despachantes, agentes, transportadores, armazenadores, enfim, todos aqueles que operam o comércio exterior. — O foco são empresas que exportam e importam com certa regularidade, que não têm qualquer interesse em fraudes e que gostariam de colaborar com os órgãos de governo para que a legislação seja respeitada. Em troca, terão procedimentos mais simplificados, mais rápidos, reduzindo o universo daqueles que têm de passar pelo canal vermelho — disse Lytha.
Ela explicou que o conceito do OEA é aprovado pela Organização Mundial do Comércio (OMC) e a Organização Internacional de Aduanas. Lytha afirmou ainda que o mecanismo tem um forte componente de segurança nacional, não apenas pela obediência às normas em vigor e o pagamento de tarifas e impostos, mas pelo cumprimento de regras ambientais, sanitárias, fitossanitárias e de segurança. Basicamente, toda carga que entra ou sai do país, que contenha madeira tanto na embalagem como em sua composição — contêineres, na maior parte —, é vistoriada pelo Ministério da Agricultura.
Se o operador da carga assumir compromissos junto ao governo, assegurando que seu material não contém madeira nãotratada (devido ao risco da mosca asiática), por exemplo, terá o mínimo inspecionado. Mas essa liberação não será imediata. Num primeiro momento, esse operador será monitorado, com a fiscalização por amostragem. — A ideia é dar maior fluidez ao fluxo de comércio exterior, dentro da legalidade. Os operadores assumirão termos de compromisso com os órgãos anuentes.
Em caso de descumprimento, a empresa será imediatamente descredenciada — afirmou Lytha. As vantagens para o sistema são diversas, explicou. O combate às fraudes se torna mais eficaz, porque recursos são liberados, e o foco, direcionado para operações de maior risco. — O risco do operador é que vai prevalecer, e não a atenção para cada carga individualizada — explicou.

Fonte : Jornal “O Globo” – edição de 12/07/2009

terça-feira, julho 14, 2009

Queda da Bastilha, 220 anos.

A Liberdade Guiando o Povo, quadro de Eugéne Delacroix que representa a Revolução Francesa

As Noites Revolucionárias (Le Nuits Révolutionnaires), de Restif de La Bretonne, é um livro de cabeceira para quem quer compreender a fundo como se deu o evento que é reconhecido internacionalmente como a passagem para o mundo contemporâneo. O relato de Restiff, que se auto intitula como o “espectador noturno”, põe em xeque muito do que a história nos apresenta como o panorama geral que marcou a Revolução Francesa. Visceral, pessoal e, ao mesmo tempo, distante, o livro narra como o grosso da população – e aí se incluem boa parte da burguesia francesa – vivenciou este período que foi tão significativo para todo o planeta. Restiff de La Bretonne expõe as rixas pessoais que serviram para dinamizar a corrida das cabeças, as ideologias e bases argumentativas de ambos os lados: tanto as provenientes dos burgueses, quanto as defesas e justificativas da aristocracia. Faz críticas ferrenhas à censura – até então ímpar na França – quanto às publicações que se encontravam em desacordo com a ideologia dominante, e mesmo à mera expressão de uma opinião em caráter privado. Pregando que nem o mais autoritário dos regimes monárquicos fora tão discriminador e fascista quanto a França que então se apresentava sob a égide da Igualdade, Liberdade e Fraternidade, durante o regime de Robespiere. Aliás, o cerne de suas críticas se encontra justamente na hipocrisia representada entre os discursos e as práticas não só da Revolução como de seus membros revolucionários. O medo generalizado da população de se tornar uma pessoa suspeita e ter de enfrentar os suplícios das masmorras – mais cheias do que nunca – por terem expressado um pensamento de nostalgia pela época onde as ruas eram seguras e havia comida nos fogões. Enfim, um relato da Revolução Francesa que teve de esperar muito tempo até que fosse permitido sua publicação – e mantido em sigilo enquanto isso, sob pena da tão temida viúva de todos (genialmente ilustrada por Victor Hugo em seu O Último Dia de um Condenado). Uma história que nos surpreende pela contradição com que confronta a História oficializada pelo mundo liberal capitalista.

quinta-feira, abril 02, 2009

Padrão dólar sob risco?

Recentemente, em ensaio disponível na página eletrônica do Banco Popular da China, o Sr. Zhou Xiaochuan, presidente da instituição, enviou uma mensagem significativa à Washington, ao propor uma reforma radical no sistema monetário internacional, na qual uma moeda global deve ser adotada como padrão de reserva de valor em substituição ao dólar. (ver artigo na The Economist sobre o tema)
A verdadeira e principal preocupação chinesa reside na emissão inorgânica de moeda por parte do FED, ou seja, na farra do boi da massiva impressão de dólares pela autoridade monetária estado-unidense. Bem, quanto maior a oferta de um produto menor o seu valor, e, do ponto de vista americano, gerar liquidez na tentativa de reativar a economia interna, e ter seus produtos com preços mais competitivos para exportação faz algum sentido econômico, agora, para a China que possui 2/3 de suas reservas internacionais atreladas ao dólar , isso representa um enorme prejuízo.
Tecnicamente, a sugestão é que a condição do dólar como divisa mundial, deve ser transferido para o SDR (Special Drawing Rights), uma moeda virtual criada pelo FMI em 1969 que tem seu valor determinado pelo peso médio das principais moedas mundiais: euro, iene, libra esterlina e obviamente o próprio dólar. Acontece que, levaria muitos anos para o SDR ser amplamente aceito como meio de troca e reserva de valor, uma vez que seu saldo total hoje é equivalente à apenas USD 32 bilhões, o que representa menos de 2% das reservas internacionais chinesas que são estimadas em 11 USD Trilhões em títulos do tesouro americano. De maneira que me faz considerar as observações do Sr. Xiaochuan falácias de cunho meramente político.

Popularidade Global.

quarta-feira, março 25, 2009

O veneno da fé.






"As melhores coisas e as melhores pessoas nascem da diferença. Sou contra uma sociedade homogênea porque eu quero que a nata se eleve."





( Robert Frost )







Chega a ser inacreditável o absurdo da temática da estampa da camiseta deste soldado israelense. Segundo consta, como marco do final de treinamento, alguns soldados encomendaram camisetas com cenas e frases de violência contra palestinos. O "modelo" da foto acima mostra uma grávida sob mira e as palavras: "Um tiro, dois mortos".
Apesar das inúmeras barbaridades que nos deparamos cotidianamente, coisas desse tipo ainda me impressionam, e fico me perguntando que tipo de gente é essa? Não basta utilizar crianças como escudo humano, atacar médicos e hospitais, vandalizar propriedades, humilhar pessoas, e efetuar disparos indiscrimanados através de aeronaves não tripuladas (conforme provado em recente relatório da ONU), além de tudo isso ainda se faz necessário o escárnio, a apologia à violência extrema, quais seriam os motivos desse radicalismo israelense? O principal talvez seja de cunho religioso.
Durante as quatro primeiras décadas do Estado de Israel, a maioria das instituições do país, entre elas o exército, eram lideradas por membros dos kibutzim que primavam pela cultura, e viam-se como seculares e ocidentalizados. Nos últimos 20 anos, o exército israelense sofreu uma guinada ao nacionalismo-religioso, com muitos fanáticos (muitos deles vindos dos assentamentos na Cisjordânia) ocupando postos cada vez mais altos na hierarquia militar. E apesar de vivermos uma época de riqueza de informação, paradoxalmente parece haver uma pobreza de atenção, pois a esmagadora maioria das vozes na mídia internacional se cala diante dessa aspecto da ideologia israelense atual, apregoando o caráter obscuro do fanatismo religioso exclusivamente para o lado palestino.
O artigo do ótimo jornalista Christopher Hitchens, An Army of Extremists na revista Slate, aborda exatamente esse aspecto da estratégia militar isralense, e vai além quando questiona o apoio incondicional (político e financeiro) dos EUA a Israel, argumentando o caráter inscontitucional nessa relação, uma vez que um dos aspectos basilares da ideologia da "Land of the Free", é a premissa do Estado laico.

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Qualquer semelhança é mera coincidência...ou não.

Já estava bem interessado em assitir ao "Slumdog Millionaire", não apenas pelos quatro Globos de Ouro que o filme ganhou, mas por considerar cada nova realização de Danny Boyle digna de uma atenção mais cuidadosa. O interesse agora é redobrado devido a anunciada semelhança com a obra-prima de Fernando Meireles. Não acredito que "Slumdog" se aproxime da qualidade de "Cidade", mas desde "Trainspotting", Boyle tem toda minha consideração e respeito.



Trailer:



segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Copying Beethoven

Vez outra acontece de termos agradaveis surpresas em despretensiosas sessões na tv a cabo, e foi o que me ocorreu no último final de semana. Era um completo ignorante sobre a diretora polonesa Anieszka Holland e seu ótimo "Copying Beethoven", nem mesmo sabia que ela também dirigiu o sucesso infantil do começo dos anos 90 "The Secret Garden", talvez pelo fato de ser majoritariamente uma diretora dedicada a produções televisivas.

Nesse caso, trata-se de uma exploração ficcionista da vida de Beethoven em seus ultimos meses de vida trabalhando em sua Nona Sinfonia. Ano de 1824, Beethoven, interpretado pelo competente Ed Harris, está correndo contra o tempo para terminar sua nova sinfonia. Seu último sucesso ja tem alguns anos e o compositor se vê acometido pela surdez, solidão e grandes conflitos interiores. A apresentação pública de sua nova obra se aproxima, de forma a se fazer necessário a contratação de um copista para auxiliá-lo a terminar em tempo o trabalho. Diane Kruger interpreta a jovem estudante de conservatório e aspirante a compositora Anna Holtz, que com o passar do tempo se envolve de maneira visceral com o maestro, passando a compreender o sentimento que sua música permeia.

Eis o ponto alto do filme: Com a impossibilidade de reger a orquestra sem perder a noção do tempo, obviamente pela falta da audição, Bethooven segue o ritmo de sua assistente e conduz brilhantemente sua última sinfonia. É uma cena belíssima, e a primeira entrada do coral de vozes feminina é algo de arrepiar, literalmente!



quinta-feira, fevereiro 05, 2009

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Inside Sudan

Em minha área de atuação, o comércio internacional, aprofundar-se no conhecimento das variáveis de cada país é fundamental, e estudando possibilidades comerciais com um país africano, durante algumas pesquisas, encontrei no vbs esse mini-documentário dividido em 5 partes que se mostrou interessantíssimo. A propósito, o site é fantástico!

Dia Mundial do Câncer

A obesidade e o sobrepeso são fatores de risco para câncer que têm avançado fortemente entre crianças e adultos de todo o mundo. Para alertar a população sobre o fato de que estar acima do peso na infância pode levar ao surgimento do câncer ao longo da vida, uma campanha global que envolverá mais de 90 países será lançada nesta quarta-feira, 4 de fevereiro, Dia Mundial do Câncer. A iniciativa é da União Internacional de Controle do Câncer, UICC, maior organização não-governamental do mundo dedicada ao controle da doença. O Instituto Nacional de Câncer, INCA, é membro da UICC e a apoiará na divulgação do tema no Brasil.
A ação faz parte de um projeto mais amplo, lançado há dois anos e que será desenvolvido até 2012. As atividades são guiadas pelo tema “Crianças de hoje, mundo de amanhã”, que atenta para a necessidade da adoção de hábitos saudáveis para prevenção do câncer desde a infância. Em 2009, a campanha pretende mobilizar familiares, profissionais de saúde, educadores e o poder público para a promoção da saúde e prevenção do câncer, por meio do estímulo a um estilo de vida saudável para as crianças, com escolhas alimentares adequadas e uma vida fisicamente ativa.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, OMS, pelo menos 2,6 milhões de pessoas morrem anualmente por causa do excesso de peso ou obesidade. A UICC estima que a alimentação inadequada, o sedentarismo, o sobrepeso e a obesidade sejam responsáveis por aproximadamente 30% dos casos de câncer nos países ocidentais, o que representa a segunda maior causa evitável de câncer, atrás apenas do tabagismo. A campanha pretende alertar para a necessidade do equilíbrio entre a energia ingerida por meio da alimentação e a gasta com atividades físicas.
OrientaçõesUma criança obesa tem chances até 30% maiores de se tornar um adulto obeso e o excesso de peso corporal em adultos é um fator de risco comprovado para câncer. Há evidências de que o excesso de gordura corporal aumente o risco do desenvolvimento de vários tipos de câncer, como de endométrio, rim, vesícula, pâncreas, mama e intestino. A primeira atitude que os pais podem tomar para prevenir a obesidade de seus filhos é alimentá-los somente por meio da amamentação até os seis meses de idade. Isso reduz em 13% as chances de a criança tornar-se obesa.
Hábitos saudáveis adquiridos desde cedo têm forte impacto ao longo da vida. Grande parte dos hábitos é estabelecida durante a infância, e o ambiente em que as crianças crescem - em casa, na escola ou em suas comunidades - as influencia de forma bastante intensa. Por isso, é importante que sejam estimulados, desde a infância, hábitos como alimentação saudável e a prática de atividade física. A escolha de um prato de comida colorida, com mais frutas, verduras e legumes, e menos gorduras, deve ser incentivada desde cedo. Além disso, os pais também devem estimular seus filhos a serem fisicamente ativos, reduzindo o tempo de atividades e brincadeiras mais sedentárias, como assistir televisão.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, 1,6 bilhão de adultos no mundo estão com excesso de peso e ao menos 400 milhões desses são obesos. As projeções indicam que em 2015 esses números subam para 3,3 bilhões e 700 milhões, respectivamente. A estimativa é que uma em cada 10 crianças em idade escolar esteja com excesso de peso. Dessas, de 30 a 45 milhões são obesas, o que representa de 2 a 3% de todas as crianças do mundo com idade entre 5 e 17 anos. No Brasil, de acordo com a Pesquisa de Orçamento Familiares, POF, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, 40,6% da população está com excesso de peso e 11,1% dos brasileiros são obesos. Esse número representa praticamente o dobro da prevalência de obesidade observada em 1974, qu e era de 5,7%.
Ações de controleO Instituto Nacional de Câncer criou em maio de 2007 a Área de Alimentação, Nutrição e Câncer. O objetivo é produzir e reunir informações sobre a relação entre os hábitos alimentares e o câncer. A área funciona como um canal de consulta e troca de informações diretamente com estados e municípios, facilitando o trabalho de promoção de práticas alimentares saudáveis. Desenvolve projetos em parceria com diversas instituições como a Embrapa Agroindústria de Alimentos, o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), universidades e empresas.
No âmbito do Ministério da Saúde, diversas ações são desenvolvidas para a promoção da alimentação saudável e da prática de atividade física, inclusive com o foco nas crianças. Destaque para do Programa Saúde na Escola, lançado em 2008 em parceria com o Ministério da Educação. Para os fatores de risco de câncer, o Programa utiliza os materiais de uma ação desenvolvida pelo INCA, o Saber Saúde, iniciada em 1998.
O objetivo é estimular a consciência crítica dos cidadãos de forma a que eles possam fazer opções conscientes que contribuam para sua saúde, a saúde coletiva e a do meio ambiente. O Saber Saúde tem como público-alvo alunos do Ensino Fundamental, envolvendo também professores e funcionários, alunos da Educação Infantil e do Ensino Médio, famílias e comunidades. Nos 26 estados e no Distrito Federal onde o Saber Saúde está implantado, sua cobertura é de 2.389.126 alunos e 120.284 professores. Até dezembro de 2008, 14.280 escolas já haviam sido sensibilizadas, sendo que 7.759 já estavam com o programa implantado.
O Ministério da Saúde também estabeleceu com a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) metas para a redução dos teores de gordura trans dos alimentos industrializados no país. Até o final de 2010, conforme os parâmetros recomendados pela OMS, as gorduras trans não podem ultrapassar 2% do total de gorduras que compõem os alimentos.

Fonte: Instituto Nacional de Câncer

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Combustível do futuro.

Se a próxima geração de veículos automotores vir mesmo a ser a dos carros híbridos ou elétricos, então a Bolívia tende a ser a nova Arábia Saudita do Lítio (mineral usado na bateria dos veículos). Este é o tema da reportagem do correspondente do The New York Times na Bolívia, Simon Romero.
Estimativas apontam que, praticamente metade do lítio do mundo encontra-se em território boliviano, no longínquo deserto salino de Uyuni. Empresas japonesas e européias já tentam fechar acordos para explorar o mineral, enquanto o governo Evo Morales fala em controlar as reservas e manter longe os estrangeiros, respaldado agora pela nova constituição aprovada no referendo de janeiro (ver nota anterior do blog).
Todavia, os grupos estrangeiros não se sentem desencorajados. Os conglomerados japoneses Mitsubishi e Sumitomo e um grupo liderado por um industrial francês, Vincent Bolloré, enviaram representantes a La Paz para discutir o acesso ao Lítio.




"Se quisermos ser uma força na próxima geração de carros, temos que estar aqui."
Oji Baba, executivo da Unidade de Metais de Base da Mitsubishi







A Mitsubishi não é a única a pretender a produção de veículos com baterias de lítio-íon. A GM pretende lançar em 2010 um carro com bateria de lítio-íon e motor a gasolina. Nissan, Ford, BMW e outras tem projetos similares.
A demanda pelo mineral, usado há muito tempo em quantidades pequenas em medicamentos estabilizadores de humor e armas termonucleares, tem crescido com sua utilização em baterias de celulares e outros eletrônicos. Mas a indústria automotiva tem o maior potencial de utilização do lítio em grande escala. Mais leve que o níquel, ele daria maior autonomia aos carros elétricos.
A despeito da restrição interna pelo envolvimento estrangeiro na exploração dos recursos, analistas dizem, no entanto, que o país precisará investir centenas de milhares de dólares para viabilizar a produção nessa magnitude. O governo está investindo USD 6 milhões numa pequena fábrica perto do povoado de Rio Grande, onde espera lançar o primeiro esforço boliviano em escala industrial para extrair e processar o lítio. Morales quer que a fábrica fique pronta ainda neste ano.

"Temos as maiores reservas de lítio do planeta, mas, se não entrarmos na corrida já, perderemos essa chance. O mercado achará outras soluções." - Juan Carlos Zuleta, economista sediado em La Paz.


domingo, fevereiro 01, 2009

A/C Dra. Rodrigues.

Há algum tempo adquiri esse livro, mas apenas recentemente empreendi uma leitura mais engajada no "História da Civilização - Parte 5 - A Renascença", de Will Durant, e tem sido um deleite página a página, algo que as grandes obras sempre proporcionam, aliás, também por esse aspecto conquistaram o rótulo de grandeza.
O livro começa pelo período do papado de Leão X (1513-1521), que, sobretudo, foi um paladino dos artistas, um grande incentivador das grandes obras. Sob sua influência, Roma tornou-se o coração palpitante da cultura européia, o epicentro para onde alfuíam artistas, letrados, poetas e homens de espírito livre em geral. Oportunamente, poderei distender um pouco mais sobre esse e outros fascinantes capítulos da história da renascença, mas no momento atenho-me à uma específica parte do capítulo seguinte ao de Leão X, intitulado 'A Revolta dos Intelectuais', sub-capítulo III, que discorre sobre o desenvolvimento da medicina naquele período.
Recentemente, num agradável colóquio com uma amiga médica, falávamos sobre alguns aspectos das transformações ocorridas na medicina nas últimas décadas: avanços tecnológicos, proliferação de cursos, banalização da relação médico-paciente, sobrecarga de trabalho e a decadência da figura do profissional no atual status quo, de maneira a ser pertinente e divertida a comparação.
Na Renascença, os médicos receberam grande parcela da nova riqueza da Itália, vindo a ser uma classe de grande influência política. Petrarca, sentindo sua posição e seus benefícios ameaçados, denunciou, cheio de indignação, os altos honorários dos médicos, e a ostentação descabida de "seus mantos escarlates e capuzes enfeitados de arminho, seus anéis ofuscantes e esporas de ouro", e enviou uma carta ao enfermo papa Clemente VI, para que se precavesse contra eles:

Sei que vosso leito está cercado de doutores, e isso naturalmente me causa temor. Suas opiniões estão sempre em choque umas com as outras, e aquele que nada tem a dizer de novo passa pelo vexame de se ver numa situação inferior aos demais. Como o disse Plínio, eles negociam com as nossas vidas a fim de criarem um nome para si através de alguma novidade. No tocante a eles - o que se não dá com outras profissões - basta chamarem-se médicos para que se acreditem em tudo que dizem; no entanto, uma mentira do médico encerra mais um perigo que a de qualquer outra pessoa. Somente uma doce esperança é que não nos faz pensar nessa situação. Eles aprendem a sua profissão à nossa custa. Até a nossa morte lhes fornece experiência. Somente o médico é que tem o direito de matar com impunidade. Ó bondosíssimo Pai, considerai essa bando como um exército de inimigos! Lembrai-vos da advertência num epitáfio que um homem infeliz mandou gravar em seu túmulo: "Morri vitimado por muitos médicos."

quinta-feira, janeiro 29, 2009

Retrocesso do Retrocesso.

Como havia comentado na postagem anterior, aquela medida esdrúxula não poderia de forma alguma vingar. Agora, num cenário tão cinza como o atual, com nuvens tão carregadas precipitando-se sobre nossas cabeças, é mais que frustrante observar uma pasta tão importante como o MDIC atuar de forma tão patética.

Governo recua e suspende nova regra de importação após crítica de empresários
Folha Online, em Brasília


O governo voltou atrás e decidiu suspender as medidas de restrição às importações adotadas desde a semana passada. O anúncio foi feito no final da tarde desta quarta-feira pelo ministro Guido Mantega (Fazenda) e pelo ministro interino do Desenvolvimento, Ivan Ramalho.
Uma hora antes do anúncio oficial, o diretor de Comércio Exterior da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Roberto Giannetti da Fonseca, recebeu do governo a informação de que o sistema seria apenas flexibilizado. Ele havia participado de reunião no Ministério da Fazenda.
O governo acabou decidindo, no entanto, suspender a medida por ela ter sido "mal compreendida", segundo o ministro Mantega. Agora, não será mais necessário pedir a licença automática, que pode demorar até dez dias, para realizar uma importação.
"Essa medida foi mal entendida, foi mal interpretada. Diante disso, o governo resolveu suspender a medida. A partir de amanhã vai voltar ao regime antigo", afirmou. "Fica tudo como antes."
De acordo com o ministro interino do Desenvolvimento, Ivan Ramalho, a partir de amanhã, não será mais solicitada a licença para importação desses produtos.
"Quando o importador for registrar a importação, já não será solicitada a licença automática. Ele volta à situação anterior, que antecede o último final de semana, quando a medida foi colocada em prática", disse o ministro interino do Desenvolvimento, Ivan Ramalho.
Mantega confirmou que a mudança tinha como objetivo monitorar as importações e evitar que houvesse uma piora na balança comercial. Por meio dela, seria possível suspender a entrada de produtos no país caso fossem encontrados problemas relativos ao livre comércio.
"Foi notada uma agudização da concorrência no comércio internacional. Em função disso, o Ministério do Desenvolvimento resolveu tomar uma medida, estabelecendo a licença prévia, para poder fazer o monitoramento do que estava acontecendo na nossa balança comercial", afirmou.

Aumento das importações
O superávit da balança comercial (diferença entre exportações e importações) caiu em 2008, devido ao aumento das importações. Em janeiro, essa situação se agravou devido à queda nas exportações devido à crise internacional. Em 2009, a balança comercial registrou déficit pela terceira semana consecutiva. No acumulado do ano até dia 25, o déficit da balança comercial soma US$ 645 milhões, com exportações 21,8% abaixo que no mesmo período do ano passado.

terça-feira, janeiro 27, 2009

Retrocesso

Totalmente incrédulo recebi a notícia abaixo, e penso que isso não deve vingar.
Identificar problemas com o fluxo da balança comercial, e adotar medidas preventivas (ou corretivas) é tudo que se espera da autoridade responsável, mas isso é um retrocesso descabido. A economia brasileira é das mais fechadas do mundo devido ao elevado nível de tarifação e engessamento burocrático do sitema aduaneiro, e retroagir 30 anos na dinâmica desse processo já tão problemático é um absurdo.


GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

Em uma decisão que pegou de surpresa as empresas de comércio exterior, o governo passou a adotar desde ontem uma série de barreiras não-tarifárias ao ingresso da grande maioria de produtos importados. Na prática, a medida significa a volta do sistema de controle das importações adotado pelo país nas décadas de 70 e 80, quando o Brasil era um pequeno exportador e importava 80% do petróleo que consumia.
O que mais chamou a atenção foi a forma com que o governo comunicou a decisão ao setor. Em vez de uma portaria ou uma comunicação formal, o Ministério do Desenvolvimento anunciou a nova medida por meio de uma nota publicada na sexta-feira passada no Siscomex, o sistema usado para controlar o comércio exterior.
A nota no Siscomex informa que será exigida a partir da data de ontem a apresentação da licença de importação prévia, a chamada LI, para quase todos os produtos que entram no país. A lista é ampla e abrange praticamente toda a pauta de importações do país: produtos de moagem (trigo), plásticos, cobre, alumínio, ferro, bens de capital, material eletroeletrônico, autopeças, automóveis e material de transporte em geral, entre outros.
A exigência da LI tinha sido abolida no país nos últimos anos. A importação era praticamente automática. A única exigência era de uma declaração de importação (DI), que era feita pelo próprio importador, apenas para efeitos estatísticos.
Já as LIs podem demorar até 60 dias para serem concedidas pela Secex (Secretaria de Comércio Exterior) e se assemelham muito às guias de importação da época da Cacex (Carteira de Comércio Exterior), o órgão que era responsável pelo controle da entrada de produtos no país nas décadas de 70 e 80. A Cacex foi extinta em 1990 e, desde então, o Brasil sempre tem atuado no sentido de liberalizar o comércio exterior.
De acordo com o que a Folha apurou, a medida adotada pelo Ministério do Desenvolvimento não conta com o apoio dos técnicos da Fazenda. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, irá se reunir hoje com o ministro interino do Desenvolvimento, Ivan Ramalho, para discutir a decisão.
No início da noite de ontem, a assessoria do Ministério do Desenvolvimento ligou à Folha para informar que o objetivo da medida foi fazer um "acompanhamento estatístico" de uma série de produtos importados pelo país, e as importações barradas ontem seriam liberadas rapidamente.
A decisão de barrar as importações com a adoção de medidas burocráticas demonstra, no entanto, uma preocupação evidente do governo com a acentuada desaceleração das exportações brasileiras no início deste ano. Segundo a Folha apurou, o governo chegou a promover reuniões na semana passada com o objetivo de estudar medidas para reverter o quadro, entre elas adotar algumas barreiras à importação.
O Ministério do Desenvolvimento pode ter até se precipitado e exagerado na dose e, por isso, poderá ser obrigado a voltar atrás, mas a medida não deixa dúvidas de que o governo está preocupado com a deterioração da balança comercial.
Ontem foram divulgados os números da balança comercial de janeiro até a semana passada. Pela terceira semana consecutiva, a balança registra déficit. Até o dia 25, o saldo negativo chegava a US$ 645 milhões.
Nesse mesmo período, as exportações somaram US$ 7,5 bilhões, uma queda de 21,8% em relação ao ano passado. Já as importações totalizaram US$ 8,2 bilhões, uma queda de 8,8% em relação a 2008.
Segundo o vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro, o déficit de janeiro ficou bem acima das previsões. Ele mesmo esperava um pequeno superávit, mas isso não justifica a adoção pelo Brasil de medidas protecionistas, segundo ele, já que o país possui reservas de US$ 202 bilhões, mais do que suficientes para cobrir esse déficit.
De acordo com Castro, até se esperava que essas medidas fossem adotadas por alguns países, como a Argentina e o Equador, mas nunca pelo Brasil. Ele teme que, a partir dessas medidas, os outros países adotem medidas de retaliação contra a exportação brasileira. "Essa medida significa uma mudança significativa de rota da política de comércio exterior do Brasil", afirma.