segunda-feira, dezembro 18, 2006

O custo social das reservas internacionais

No final de novembro, o Banco Central orgulhosamente anunciou o novo recorde do nível das reservas internacionais brasileiras, algo próximo de USD 84 bilhões. Há duas décadas e meia, às vésperas da crise deflagrada pelo default do México em 1982, os países emergentes mantinham a relação reservas internacionais/PIB entre 5% e 7%, cifras correspondentes em média, a três meses de importação. Dados de 2004, mostram que a relação reservas/PIB saltou para 35%, representando por sua vez a oito meses de importação.
A acumulação de reservas estrangeiras por parte dos países em desenvolvimento, intensificou-se no início dos anos 90 com o surgimento da chamada "globalização financeira", quando uma onda de liquidez global proporcionou um forte movimento de capitais dos países desenvolvidos para os emergentes. No decorrer da década, várias crises financeiras ocorreram (Turquia em 94, México em 95, Ásia em 97, Russia em 98 e Brasil em 99, ainda teria Argentina 2001), e no intuito de blindar suas economias das intempéries mundo afora(obviamente, intruídos por FMI e afins), as autoridades econômicas dos países emergentes exacerbaram o conceito da política de acumulação de reservas, retaliando outras estratégias que poderiam e deveriam ser aplicadas simultaneamente.
Após a crise da Ásia, um economista chamado Martin Feldstein, concluiu que os países em desenvolvimento não devem depender exlusivamente das reformas propostas pelo FMI para se prevenirem de crises externas, mas sobretudo, trabalharem uma auto-proteção baseada no aumento de liquidez . Por sua vez, tal liquidez pode ser atingida através de três estratégias: Diminuição do endividamento de curto prazo; Expansão de crédito e a famigerada acumulação de reservas.
Pegando o gancho de Feldstein, o competente economista de Harvard, Dani Rodrik, publicou recentemente um ensaio sobre as possíveis razões da adoção monopolística da política de acumulação de reservas, onde aponta o custo social que tal medida acarreta. Rodrik não encontra justificativas racionais para o fato de a maioria dos emergentes não terem reduzido o endividamento de curto prazo, pois a preferência pelas reservas estrangeiras não traz nenhum benefício direto no que se refere ao investimento produtivo, e dispara: "Somos levados à conclusão incontornável de que os emergentes responderam à globalização financeira de uma forma desequilibrada, longe de ser a mais adequada. Investiram na custosa estratégia de acumular reservas e subutilizaram métodos de controle de capitais. É fácil descobrir as razões de tal cometimento: ao contrário da acumulação de reservas, impor controles ao endividamento de curto prazo contraria poderosos interesses, dentro e fora de cada país. O controle de capitais ganhou a péssima reputação de "intervenção no mercado" que a formação de reservas não tem". O pandemônio ocorrido na bolsa da Tailândia após o anuncio de uma série de medidas de controle de capitais especulativos, é a prova cabal das afirmações de Rodrik.

Ensaio integral em inglês disponível no link abaixo.

Nenhum comentário: