sexta-feira, abril 18, 2008

Separação

Vários poemas no final de A fúria da beleza, livro de Elisa Lucinda, tratam da dolorosa hora da desilusão amorosa. Alguns trechos:

PEDIDO DE AMOR

Cuide de nós, meu amor.

(...)

Cuide de nosso amor,
antúrio, avenca, samambaia,
Polvilhe teus elegantes dedos
nas primaveras das plantas de nossas casas.
Essas que existem na minha e na tua rua,
e essa perene que brilha entre as duas.
Aquela primavera-cigana que se estabelece nas estações,
se instala em todas as pousadas, quartos e cafundós,
se espalha em todos os chalés
e vai do hotel aeroporto, passa na Broadway, Cabo Verde,
Canadá, até o reino de Itaúnas.
Cuide comigo das nossas dunas
onde brincam e crescem nossos meninos,
para que vença o amor,
para que triunfe o melhor sentimento.

Porque não é de vento nossa estrada,
embora voe.
Nem é de mentira nossa dor,
embora perdoe.


REBANHO PERDIDO NO PARAÍSO

Sem você a vida não é que seja exatamente ruim,
mas é que fica manca e puxa de uma perna toda beleza.
Então é surda ela de um ouvido
ou, o que não duvido, é cega dos óio.
(...)
Eu choro, por dentro, nas confeitarias,
choro nos balcões de caldo de cana e também nos balcões de poesia.
Tantos perdões te ofereci,
muitas compreensões te ofertei,
canções que cantei sem alarde nos banheiros em seu nome!
Tolerâncias-rebanho pus no altar de nossas oferendas
e agora, passeiam sem agendas nossos sonhos.
Gados sem vaqueiro percorrem o escuro do pasto.
Lá vão eles, são nossas doces quimeras.
Ovelhas sem rumo, porteira sem tramela.
Ninguém avisou a elas que podia ser de precipício o próximo passo.
Também pudera,
ovelhas pensam que o guia é certo como o sol, ele mesmo, o astro.

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