segunda-feira, abril 07, 2008

Kafka em HQ

Não houve apenas um trabalho de adaptação de contos em "Desista! E Outras Histórias de Franz Kafka". (Conrad, R$ 22, 64 págs.). Ocorreu também um processo de transcriação das narrativas surreais do escritor tcheco.
O norte-americano Peter Kuper, autor da adaptação, traduziu em imagens o tom absurdo das situações criadas por Kafka (1883-1924).
Trata-se, evidentemente, de uma leitura pessoal dele mostrada na forma de imagens.
No conto "Desista!", destacado no título e na capa do álbum, um homem atrasado pergunta a um policial "qual é o caminho". Acuado, ouve um sonoro "desista!" como resposta.
O atraso do homem é caracterizado com um relógio num dos olhos. A atitude agressiva do policial é simbolizada com um cano de revólver no lugar do nariz.
É esse o tom das nove histórias da obra, ora mais acentuado, ora menos. Imagem e texto procuram se harmonizar por meio dos toques surreais.
O resultado é um incômodo, muitas vezes acentuado pela crítica à condição humana.
Talvez o caso mais contundente desse desconforto seja "Um Artista da Fome", o mais longo do álbum (dez páginas).
Um jejuador profissional, que se apresenta em público, começa a perder o interesse da platéia. Tenta se apresentar num circo, mas a cena se repete.
Como de costume numa obra kafkiana, a situação em si dá margem a mais de uma leitura. Mas qualquer interpretação esbarra num certo desconforto.
Os nove contos do álbum –escritos por Kafka nas duas primeiras décadas do século 20- não são o primeiro passeio de Kuper pelo mundo kafkiano.
Ele adaptou também "A Metamorfose", trabalho feito após "Desista!".
A versão dele para o romance foi lançada pela Conrad em 2004.
Foi um bom negócio para a editora. A obra foi incluída no PNBE (Programa Nacional Biblioteca na Escola), do governo federal.
O programa compra obras literárias e em quadrinhos e as distribui a escolas do ensino fundamental. Resultado: a obra esgotou.
"Desista!", assim como outras adaptações literárias que vêm sendo produzidas, tem tudo para seguir o mesmo caminho. Melhor garantir antes que o governo a descubra
Fonte: UOL.

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