JOÃO UBALDO RIBEIRO - O GLOBO - 13/09/09
– Que foi que houve cara, ganhou na mega-sena? Tu tá com uma cara de felicidade como há muito tempo eu não vejo, desde a data histórica em que o Fluminense ganhou um jogo. Tu não sabia que era o último, senão tinha festejado mais, né não?
– Dispenso gozação de flamenguista, estou acima disso. Agora, pensando bem, você não deixa de ter razão, eu devo estar com a cara feliz, não por nenhum acontecimento em especial, mas como se por alguma coisa que eu sentisse no ar.
– Se for um fedorzinho, eu também sinto, mas dizem que em Brasília é pior.
– Você não leva nada a sério, mas eu levo. Você me conhece, desde rapazinho que eu me preocupo com os problemas brasileiros, sempre fui um patriota. Você está certo, é como se eu tivesse ganho a mega-sena mesmo, todos nós ganhamos a mega-sena.
– Fundaram a Mega-sena Família, é isso? Agora quem se cadastrar vai ter direito a fazer um joguinho de graça por semana? Bem bolado, é isso que é a famosa distribuição da riqueza? Vai ter vale-mega-sena?
– Deixa de fazer ironia sem graça, cara, tu não tem o que dizer, a verdade é essa.
– Eu não tenho o que dizer de quê? Tu vem com essa conversa de que todo o povo tirou na megas-sena e quer que eu te leve a sério? Que é que tu andou bebendo antes de chegar aqui?
– Eu disse que tinha feito uma metáfora e você veio logo querer curtir com a minha cara. Mas eu não vou deixar o cinismo e a descrença me vencerem. Então eu retiro a metáfora, mas dá no mesmo. O fato é que nossa situação hoje é excepcional.
– A nossa, aqui do bairro, no momento é. Faz três dias que não se tem notícia de nenhum assalto aqui nas redondezas.
– Assim não dá pra conversar. Eu quero falar sobre uma coisa séria e você fica me interrompendo pra fazer gracinha. Eu não estou me referindo a assalto.
– Mas eu estou. Você vem com essa conversa de que nossa situação é excepcional e aí eu achei que só podia ser por isso. Acabaram os assaltos, não?
– Eu não estou me referindo a problemas de segurança pública.
– Porque não quer, porque quer que eles não existam, todo mundo quer isso, mas eles existem.
– É, assim não dá. Se a gente for falar em problema de segurança pública, não acaba nunca.
– Certo, certo, então vamos falar em educação. Nós estamos num momento excepcional, em matéria de educação? Todo mundo na escola, professores bem pagos e respeitados, todo mundo orientado, todo mundo educado. Eu pensava que estava tudo como antes e até um pouco pior, mas, a julgar pelo seu jeito, a educação vai muito bem.
– Você fica desviando o assunto, antes eu não estava falando em segurança e agora não estou falando em educação.
– Então fale em saúde. Vamos falar em saúde? Eu sei que qualquer um pode receber tratamento igual ao do presidente da República, eu ouvi ele dizendo isso. Mas você queria saber a história da mãe de minha empregada, que teve outro derrame enquanto esperava uma senha do SUS às quatro horas da manhã e morreu depois de esperar até o dia seguinte, numa maca no corredor do hospital?
– Cara, tu tá parecendo deputado da oposição. Se é para desviar o assunto, então não tem papo.
– Eu sei, teve as reformas. Teve a reforma agrária, a reforma política, a reforma eleitoral, a administrativa, a tributária, diz aí as outras, em qualquer setor que você pense, teve reforma.
– Lá vem você de novo, assim não dá mesmo.
– A política outro dia teve uma reformazinha, aumentaram o número de vereadores no Brasil todo. E a tributária, a tributária também é boa, tem bancos que não pagam imposto de renda e o Daniel Dantas recebe restituição do imposto de renda, ele mesmo contou.
– Eu já vi que hoje não adianta conversar com você. Mas eu lhe faço uma pergunta só, basta uma. O que é que você me diz do pré-sal?
– Eu, nada. E o que é que você me diz? Você entende desse negócio de pré-sal?
– Entendo o suficiente para saber que hoje nós temos uma das maiores reservas de petróleo do mundo. Não é para agora, é coisa para começar a dar frutos depois dos próximos dez ou quinze anos. Mas os nossos descendentes desfrutarão dessa riqueza, o futuro está garantido.
– O petróleo é o combustível do futuro? Eu pensava que eram os biocombustíveis e outros renováveis, mas agora mudou tudo, não foi? É, de fato mudou. Você quer que eu lhe diga o que foi que mudou?
– Pode dizer, finalmente você reconhece que alguma coisa mudou.
– Ah, nesse ponto mudou radicalmente: na época do biocombustível, não ia ter eleição, e agora vai. Mas vamos mudar de assunto, eu passei a te entender melhor do que entendia, antes deste nosso papo.
– Agora mostra aí aquela tua prova matemática de que o Fluminense não vai pra segundona.
segunda-feira, setembro 14, 2009
O Leigo
LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - O GLOBO - 13/09/09
“Leigo” é o nome genérico de quem não está entendendo. Na sua origem “leigo” era sinônimo de “laico”, o contrário de “clérigo”, um cristão que não pertencia à hierarquia da Igreja. Com o tempo a palavra passou a identificar quem está por fora de qualquer assunto, e não apenas os eclesiásticos. O Leigo é mal informado, ingênuo e simplista. As coisas precisam ser explicadas com muita clareza ao Leigo, e mesmo assim ele custa a compreendê-las. Ele próprio costuma invocar sua condição e dizer “Sou leigo na matéria” quando se vê diante de um desafio intelectual. Diz muito isto. Porque tudo é um desafio intelectual para o Leigo.
Mas o Leigo nos presta um grande serviço. Como seu raciocínio é simples, ele muitas vezes faz as perguntas óbvias que nós não fazemos para não parecermos simples. Há anos, por exemplo, não entra na cabeça do Leigo por que as tais “riquezas naturais” brasileiras de que ouvimos faltar desde a escola não enriqueceram o Brasil, ou pelo menos melhoraram a vida da maioria dos brasileiros, que, ao contrário, parece piorar quanto mais as riquezas são extraídas e exportadas. O Leigo nunca entendeu a venda, que mais pareceu uma doação, da Vale do Rio Doce, como nunca entendeu a campanha antiga e sistemática para desacreditar e doar a Petrobras. Agora o Leigo – na sua ingenuidade – não está entendendo essa discussão sobre o controle estatal do petróleo do pré-sal e o destino a ser dado ao produto da sua exploração, como se não estivesse na cara o que precisa ser feito.
No plano internacional, o Leigo imagina que se todo o dinheiro gasto no comércio de armas fosse aplicado em projetos sociais, acabaria a miséria no mundo. Você e eu, que somos pessoas sofisticadas e por dentro, sabemos que o mundo não funciona assim, com esse altruísmo simétrico. Que se não gastasse com armas o mundo só gastaria em bebida e mulheres. E essa de que um país com os problemas sociais do Brasil não tem nada que estar comprando submarino atômico só pode ser coisa do Leigo. Bendito Leigo.
DUNGA
No Brasil, como se sabe, ninguém é leigo em futebol. Todos são clérigos, ninguém é laico. Mas os últimos sucessos da seleção criaram uma cisão entre os eclesiásticos com relação ao Dunga. Há os que os fatos obrigaram a aceitá-lo, e os que nada os fará aceitá-lo, muito menos os fatos.
“Leigo” é o nome genérico de quem não está entendendo. Na sua origem “leigo” era sinônimo de “laico”, o contrário de “clérigo”, um cristão que não pertencia à hierarquia da Igreja. Com o tempo a palavra passou a identificar quem está por fora de qualquer assunto, e não apenas os eclesiásticos. O Leigo é mal informado, ingênuo e simplista. As coisas precisam ser explicadas com muita clareza ao Leigo, e mesmo assim ele custa a compreendê-las. Ele próprio costuma invocar sua condição e dizer “Sou leigo na matéria” quando se vê diante de um desafio intelectual. Diz muito isto. Porque tudo é um desafio intelectual para o Leigo.
Mas o Leigo nos presta um grande serviço. Como seu raciocínio é simples, ele muitas vezes faz as perguntas óbvias que nós não fazemos para não parecermos simples. Há anos, por exemplo, não entra na cabeça do Leigo por que as tais “riquezas naturais” brasileiras de que ouvimos faltar desde a escola não enriqueceram o Brasil, ou pelo menos melhoraram a vida da maioria dos brasileiros, que, ao contrário, parece piorar quanto mais as riquezas são extraídas e exportadas. O Leigo nunca entendeu a venda, que mais pareceu uma doação, da Vale do Rio Doce, como nunca entendeu a campanha antiga e sistemática para desacreditar e doar a Petrobras. Agora o Leigo – na sua ingenuidade – não está entendendo essa discussão sobre o controle estatal do petróleo do pré-sal e o destino a ser dado ao produto da sua exploração, como se não estivesse na cara o que precisa ser feito.
No plano internacional, o Leigo imagina que se todo o dinheiro gasto no comércio de armas fosse aplicado em projetos sociais, acabaria a miséria no mundo. Você e eu, que somos pessoas sofisticadas e por dentro, sabemos que o mundo não funciona assim, com esse altruísmo simétrico. Que se não gastasse com armas o mundo só gastaria em bebida e mulheres. E essa de que um país com os problemas sociais do Brasil não tem nada que estar comprando submarino atômico só pode ser coisa do Leigo. Bendito Leigo.
DUNGA
No Brasil, como se sabe, ninguém é leigo em futebol. Todos são clérigos, ninguém é laico. Mas os últimos sucessos da seleção criaram uma cisão entre os eclesiásticos com relação ao Dunga. Há os que os fatos obrigaram a aceitá-lo, e os que nada os fará aceitá-lo, muito menos os fatos.
quinta-feira, setembro 10, 2009
O Brasil brilhou
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. - FOLHA DE S.PAULO - 10/09/09
Leitor, leitora , hoje não sei realmente por onde começar.
Normalmente, gosto de separar material, estatísticas, estruturar o artigo etc. Hoje, não dá tempo para nada disso. O horário-limite da Folha se aproxima -é sentar na frente do computador e escrever. Isso a título de desculpa. Bem.
Retomo o assunto da semana passada. Como previ no artigo da última quinta, para nós o aspecto mais importante das reuniões do G20 em Londres acabou sendo mesmo o encontro dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) na sexta-feira. A reunião de sábado, dos ministros de Finanças e de presidentes de BCs do G20, terminou em 0 a 0.
Dentro da rotação estabelecida entre os quatro países, cabia ao Brasil presidir a reunião dos Brics. Posso ser franco? O Brasil brilhou.
Tudo funcionou dentro do planejado. Desde a preparação do comunicado, passando pela cuidadosa negociação do texto entre as quatro delegações, por toda a logística e infraestrutura do encontro a cargo da nossa embaixada em Londres, até a condução das discussões pelo ministro da Fazenda do Brasil, terminando na coletiva de imprensa da qual participaram os quatro ministros -tudo saiu muito bem.
Como foi noticiado, o secretário do Tesouro dos EUA pediu para comparecer à parte final da reunião -um reconhecimento da importância crescente que vêm adquirindo os Brics. O diálogo com o representante americano foi conduzido com grande habilidade pelos quatro países, em especial pelo Brasil, que comandava o encontro.
O leitor sabe que o brasileiro, apesar de tudo, é um pobre e humilde ser. O complexo de vira-lata -não adianta negar- está sempre à nossa espreita. Assim sendo, confesso lisamente: fiquei orgulhoso.
Posso confessar que fiquei até emocionado? Pois fiquei. Pode ter sido -quem sabe?- apenas um efeito do esgotamento decorrente do excesso de trabalho e viagens.
Em todo caso, saí da reunião dos Brics com a esperança de que se consiga fazer progresso na reunião dos líderes do G20 em Pittsburgh, nos próximos dias 24 e 25 -em especial no que diz respeito à reforma do FMI que é, como expliquei no artigo da semana passada, uma das prioridades (talvez a prioridade) do Brasil para Pittsburgh.
Paro e releio o que escrevi. Não quero cortar nada, mas devo fazer algumas ressalvas. Primeiro, vale lembrar a advertência de Chamfort, filósofo francês do século 18: "A esperança não passa de um charlatão que não para de nos enganar; para mim, a felicidade só teve início quando a abandonei". E acrescentou: "De bom grado, colocaria na porta do Paraíso as palavras que Dante colocou na do Inferno: "Lasciate ogni speranza, voi ch'entrate" (abandonai toda esperança, vós que entrais)". Temos uma árdua escalada pela frente. A resistência da Europa será um obstáculo difícil de transpor. A coordenação com Rússia, Índia, China e outros países em desenvolvimento é uma batalha quase diária. Com os EUA e outros países desenvolvidos temos interesses comuns em matéria de G20 e FMI, mas será preciso usar todos os nossos recursos de persuasão e argumentação.
Quem quiser ter uma ideia mais precisa dos objetivos que buscaremos em Pittsburgh pode consultar o comunicado dos Brics, cuja íntegra está em www.fazenda.gov.br. Demorei a encontrar um título para o artigo. Espero que a escolha não pareça ufanista. De todo modo, o que importa mesmo é saber se conseguiremos sustentar a performance nas próximas semanas.
Leitor, leitora , hoje não sei realmente por onde começar.
Normalmente, gosto de separar material, estatísticas, estruturar o artigo etc. Hoje, não dá tempo para nada disso. O horário-limite da Folha se aproxima -é sentar na frente do computador e escrever. Isso a título de desculpa. Bem.
Retomo o assunto da semana passada. Como previ no artigo da última quinta, para nós o aspecto mais importante das reuniões do G20 em Londres acabou sendo mesmo o encontro dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) na sexta-feira. A reunião de sábado, dos ministros de Finanças e de presidentes de BCs do G20, terminou em 0 a 0.
Dentro da rotação estabelecida entre os quatro países, cabia ao Brasil presidir a reunião dos Brics. Posso ser franco? O Brasil brilhou.
Tudo funcionou dentro do planejado. Desde a preparação do comunicado, passando pela cuidadosa negociação do texto entre as quatro delegações, por toda a logística e infraestrutura do encontro a cargo da nossa embaixada em Londres, até a condução das discussões pelo ministro da Fazenda do Brasil, terminando na coletiva de imprensa da qual participaram os quatro ministros -tudo saiu muito bem.
Como foi noticiado, o secretário do Tesouro dos EUA pediu para comparecer à parte final da reunião -um reconhecimento da importância crescente que vêm adquirindo os Brics. O diálogo com o representante americano foi conduzido com grande habilidade pelos quatro países, em especial pelo Brasil, que comandava o encontro.
O leitor sabe que o brasileiro, apesar de tudo, é um pobre e humilde ser. O complexo de vira-lata -não adianta negar- está sempre à nossa espreita. Assim sendo, confesso lisamente: fiquei orgulhoso.
Posso confessar que fiquei até emocionado? Pois fiquei. Pode ter sido -quem sabe?- apenas um efeito do esgotamento decorrente do excesso de trabalho e viagens.
Em todo caso, saí da reunião dos Brics com a esperança de que se consiga fazer progresso na reunião dos líderes do G20 em Pittsburgh, nos próximos dias 24 e 25 -em especial no que diz respeito à reforma do FMI que é, como expliquei no artigo da semana passada, uma das prioridades (talvez a prioridade) do Brasil para Pittsburgh.
Paro e releio o que escrevi. Não quero cortar nada, mas devo fazer algumas ressalvas. Primeiro, vale lembrar a advertência de Chamfort, filósofo francês do século 18: "A esperança não passa de um charlatão que não para de nos enganar; para mim, a felicidade só teve início quando a abandonei". E acrescentou: "De bom grado, colocaria na porta do Paraíso as palavras que Dante colocou na do Inferno: "Lasciate ogni speranza, voi ch'entrate" (abandonai toda esperança, vós que entrais)". Temos uma árdua escalada pela frente. A resistência da Europa será um obstáculo difícil de transpor. A coordenação com Rússia, Índia, China e outros países em desenvolvimento é uma batalha quase diária. Com os EUA e outros países desenvolvidos temos interesses comuns em matéria de G20 e FMI, mas será preciso usar todos os nossos recursos de persuasão e argumentação.
Quem quiser ter uma ideia mais precisa dos objetivos que buscaremos em Pittsburgh pode consultar o comunicado dos Brics, cuja íntegra está em www.fazenda.gov.br. Demorei a encontrar um título para o artigo. Espero que a escolha não pareça ufanista. De todo modo, o que importa mesmo é saber se conseguiremos sustentar a performance nas próximas semanas.
terça-feira, setembro 08, 2009
Milonga de Amor.
Raramente recordava-se de seus sonhos, contudo, naquela manhã não somente assimilara òs detalhes, como também tinha a estranha sensação de ter fisicamente vivenciado todos aqueles momentos fantasiosos. Estava consciente que, o realismo mágico do enredo de sua atividade onírica da noite anterior, era fruto de sua confusão sentimental momentânea. Enquanto tentava concentrar-se na leitura do periódico, refletia que, em se tratando de amores, vivemos sob uma certa ditadura de decisões definitvas, e nesse padrão de escolhas peremptórias é praticamente impossivel qualquer outra opção comportamental. O fato é que toda encruzilhada da vida é mais um capítulo adicionado ao livro do que "Poderia ter Sido". E quase todos os dias nos deparamos com escolhas importantes, irreversíveis até, do ponto de vista de influência na vida cotidiana. Os 15 minutos dormidos a mais de manhã, o tempo do banho, a demora e a escolha da roupa, descer de elevador ou de escada, tomar café na padaria da esquina ou ir direto pro escritório, enfim, todas essas decisões aleatórias, podem definir (e definem) as condições futuras. Todavia, essas escolhas e suas conseqüências estão diluídas na massa homogênea do roteiro cotidiano, o complicado é a escolha onde o divisor de águas é notório e claro, quando um fato é crucial, de vida ou de morte, isso ocorre quando o estigma cultural transforma mais uma decisão aleatória em algo decisivo para nossa continuidade harmônica enquanto indivíduos sociais.
Não tinha costume de ler a sessão de horóscopos, mas talvez por estar tão absorto em todos esses pensamentos, de maneira a impedir a leitura consciente das noticias do dia, partiu para a leitura das amenidades do zodíaco, e o seu dizia algo nessa linha: ".... No campo afetivo, preste mais atenção nas consequências de suas atitudes, não basta ter sentimentos belos, mas também, e principalmente, assumir a responsabilidade de seus impacto a terceiros." Aquela foi a primeira - e talvez a última vez - que se sentiu tocado por aquela tal Astrologia...
Não tinha costume de ler a sessão de horóscopos, mas talvez por estar tão absorto em todos esses pensamentos, de maneira a impedir a leitura consciente das noticias do dia, partiu para a leitura das amenidades do zodíaco, e o seu dizia algo nessa linha: ".... No campo afetivo, preste mais atenção nas consequências de suas atitudes, não basta ter sentimentos belos, mas também, e principalmente, assumir a responsabilidade de seus impacto a terceiros." Aquela foi a primeira - e talvez a última vez - que se sentiu tocado por aquela tal Astrologia...
A impunidade da ignorância.
CLÓVIS ROSSI - FOLHA DE SÃO PAULO - 08/09/09
LONDRES - Pelo choque que me causou, repasso ao leitor o essencial de artigo do escritor espanhol Rafael Argullol para "El País".
Começa relatando que alguns dos melhores professores universitários espanhóis estão se aposentando "precipitadamente". Cita dois motivos: "o desinteresse intelectual dos estudantes e a progressiva asfixia burocrática da vida universitária".
Explico o sentimento de choque: não sei se a situação ocorre também no Brasil, mas sei que o caldo de cultura descrito por Argullol é parecido no Brasil (como, aliás, no resto do mundo).
Os professores, escreve Argullol, "se sentem mais ofendidos pelo desinteresse [dos estudantes] do que pela ignorância". Acrescenta que um amigo lhe disse que "os estudantes universitários eram o grupo com menos interesse cultural da nossa sociedade, e isso explicava que não lessem a imprensa escrita, a não ser que fosse de graça, que não buscassem livros fora das bibliografias obrigatórias, ou que não assistissem a conferências se não fossem premiados com créditos úteis para serem aprovados".
É o triunfo do que o escritor chama de "utilitarismo". Os estudantes são adestrados na "impunidade ante a ignorância", porque o conhecimento é um "caminho longo e complexo" e perde para o imediatismo da posse instantânea.
Não tenho informações para afirmar se essa situação ocorre também no Brasil. É evidente, em todo o caso, que há ou houve recentemente uma discussão sobre a asfixia burocrática.
Gilberto Dimenstein já comentou, tempos atrás, o fato de que professores de universidades públicas estavam se aposentando cedo e passando ao ensino privado.
O utilitarismo e o predomínio do individual são características contemporâneas globais. Estamos nós também cevando "a impunidade ante a ignorância"?
LONDRES - Pelo choque que me causou, repasso ao leitor o essencial de artigo do escritor espanhol Rafael Argullol para "El País".
Começa relatando que alguns dos melhores professores universitários espanhóis estão se aposentando "precipitadamente". Cita dois motivos: "o desinteresse intelectual dos estudantes e a progressiva asfixia burocrática da vida universitária".
Explico o sentimento de choque: não sei se a situação ocorre também no Brasil, mas sei que o caldo de cultura descrito por Argullol é parecido no Brasil (como, aliás, no resto do mundo).
Os professores, escreve Argullol, "se sentem mais ofendidos pelo desinteresse [dos estudantes] do que pela ignorância". Acrescenta que um amigo lhe disse que "os estudantes universitários eram o grupo com menos interesse cultural da nossa sociedade, e isso explicava que não lessem a imprensa escrita, a não ser que fosse de graça, que não buscassem livros fora das bibliografias obrigatórias, ou que não assistissem a conferências se não fossem premiados com créditos úteis para serem aprovados".
É o triunfo do que o escritor chama de "utilitarismo". Os estudantes são adestrados na "impunidade ante a ignorância", porque o conhecimento é um "caminho longo e complexo" e perde para o imediatismo da posse instantânea.
Não tenho informações para afirmar se essa situação ocorre também no Brasil. É evidente, em todo o caso, que há ou houve recentemente uma discussão sobre a asfixia burocrática.
Gilberto Dimenstein já comentou, tempos atrás, o fato de que professores de universidades públicas estavam se aposentando cedo e passando ao ensino privado.
O utilitarismo e o predomínio do individual são características contemporâneas globais. Estamos nós também cevando "a impunidade ante a ignorância"?
sexta-feira, setembro 04, 2009
Vizinhos.
Neighbours (1952), foi premiado com o Canadian Film Award (melhor curta), e também com o Oscar de melhor curta-documentário, e assim como em trabalhos pregressos, também teve uma motivação política, como o próprio Norman Mclaren declarou:
"I was inspired to make Neighbours by a stay of almost an year in the People's Republic of China. Although I only saw the beginnings of Mao's revolution, my faith in human nature was reinvigorated by it. Then I came back to Quebec and the Korean War began. (...) I decided to make a really strong film about anti-militarism and against war."
Contudo, a versão vencedora do Oscar não foi a versão original, pois McLaren foi solicitado a retirar a cena em que os homens (vizinhos) atacam e matam a família um do outro.
Durante a guerra do Vietnã, devido às mudanças de posição da status quo, foi solicitado o inverso a McLaren, para que ele restabelece a sequencia original ao produto final.
Abaixo a versão integral:
"I was inspired to make Neighbours by a stay of almost an year in the People's Republic of China. Although I only saw the beginnings of Mao's revolution, my faith in human nature was reinvigorated by it. Then I came back to Quebec and the Korean War began. (...) I decided to make a really strong film about anti-militarism and against war."
Contudo, a versão vencedora do Oscar não foi a versão original, pois McLaren foi solicitado a retirar a cena em que os homens (vizinhos) atacam e matam a família um do outro.
Durante a guerra do Vietnã, devido às mudanças de posição da status quo, foi solicitado o inverso a McLaren, para que ele restabelece a sequencia original ao produto final.
Abaixo a versão integral:
Você diz alô, eu digo adeus.
FERNANDO GABEIRA - FOLHA DE SÃO PAULO 04/09/09
No momento em que o governo faz uma grande festa pelo pré-sal, a revista Foreign Policy'publica um número sobre o longo adeus do petróleo. É tão grande o impacto festivo que um prefeito de Pernambuco perguntou: “Já posso contar este mês com o dinheiro do pré-sal?” Ao governo interessa desinformar – para isso tem um grande aparato. Mas é fundamental nesse confronto fortalecer algumas teses. A primeira delas é de que o recurso do óleo deveria ser usado para nos libertarmos dele. Parece simples. No entanto, pesquisas indicam que um terço dos royalties é gasto por algumas cidades para aumentar a máquina administrativa. Isso quer dizer dar mais empregos e aumentar o poder dos grupos políticos locais. Fala-se em usar a Noruega como modelo econômico de exploração. Mas nada se fala no modelo de proteção ecológica de lá. O interessante é que o Estado não combinou com os russos, e o modelo talvez não seja atrativo para empresas. A Petrobras cuida de quase tudo, drenando imensos recursos que poderiam se voltar para a energia renovável. O importante é que houve uma grande festa. Alguns, como Sarney, saíram de sua pirâmide para celebrar; outros, como Dilma, de resguardo contra perguntas delicadas, reapareceram protegidos. Já havia legislação e toda uma história do petróleo no País. Mas a pressa em festejar parece maior que a de pesquisar e contabilizar os recursos para saber o que fazer com eles. A diferença entre Obama e Lula em energia está no ministro que escolheram. Lá é um Prêmio Nobel de Física; aqui é o Lobão, que prepara uma nova estatal, para a alegria de netos, filhos e amantes. Fazer um fogo e distribuir espelhinhos foi tática do poder desde a chegada dos portugueses.
Caramuru.
No momento em que o governo faz uma grande festa pelo pré-sal, a revista Foreign Policy'publica um número sobre o longo adeus do petróleo. É tão grande o impacto festivo que um prefeito de Pernambuco perguntou: “Já posso contar este mês com o dinheiro do pré-sal?” Ao governo interessa desinformar – para isso tem um grande aparato. Mas é fundamental nesse confronto fortalecer algumas teses. A primeira delas é de que o recurso do óleo deveria ser usado para nos libertarmos dele. Parece simples. No entanto, pesquisas indicam que um terço dos royalties é gasto por algumas cidades para aumentar a máquina administrativa. Isso quer dizer dar mais empregos e aumentar o poder dos grupos políticos locais. Fala-se em usar a Noruega como modelo econômico de exploração. Mas nada se fala no modelo de proteção ecológica de lá. O interessante é que o Estado não combinou com os russos, e o modelo talvez não seja atrativo para empresas. A Petrobras cuida de quase tudo, drenando imensos recursos que poderiam se voltar para a energia renovável. O importante é que houve uma grande festa. Alguns, como Sarney, saíram de sua pirâmide para celebrar; outros, como Dilma, de resguardo contra perguntas delicadas, reapareceram protegidos. Já havia legislação e toda uma história do petróleo no País. Mas a pressa em festejar parece maior que a de pesquisar e contabilizar os recursos para saber o que fazer com eles. A diferença entre Obama e Lula em energia está no ministro que escolheram. Lá é um Prêmio Nobel de Física; aqui é o Lobão, que prepara uma nova estatal, para a alegria de netos, filhos e amantes. Fazer um fogo e distribuir espelhinhos foi tática do poder desde a chegada dos portugueses.
Caramuru.
Acirra-se a disputa pela "picanha azul"
CLAUDIA SAFATLE - VALOR ECONÔMICO 04/09/09
O deputado Henrique Alves (PMDB-RN) já procurou os técnicos do governo para discutir como derrubar os artigos 49 e 50 do principal projeto de lei do novo marco regulatório do pré-sal. O parlamentar deve ser o relator do projeto que introduz o sistema de partilha de produção e, mesmo sem ter sido indicado oficialmente para a relatoria, já começou a discutir como substituir o que o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, arrancou de Lula no jantar de domingo, no Palácio da Alvorada.Estavam presentes no jantar que precedeu a divulgação do novo marco regulatório do pré-sal, na segunda feira, também os governadores de São Paulo, José Serra, do Espírito Santo, Paulo Hartung. Preparado para travar uma guerra, Cabral foi acompanhado por dois secretário: o de Desenvolvimento, Júlio Bueno, e da Fazenda, Joaquim Levy, ex-secretário do Tesouro Nacional e velho conhecido da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e do presidente Lula.A prefeita de Campos, Rosinha Garotinho, também procurou assessores do Ministério da Fazenda e das Minas e Energia, na quarta feira, para apresentar uma contraproposta ao texto do referido artigo que pode ser o ponto de partida para uma negociação no Congresso.O assunto envolve muito dinheiro e é complexo. Os dois artigos dizem que enquanto não houver uma lei específica mudando os royalties e a participação especial que vigora nas concessões, permanece tudo como está. Com esse dispositivo o Rio conseguiu garantir que os Estados produtores, os municípios confrontantes e os municípios com instalações necessárias à exploração do petróleo do pré-sal recebam, no regime de partilha de produção, o que receberiam se nessa área continuasse a vigorar o sistema de concessões.O projeto de lei original do Executivo remetia essa receita integralmente para o Fundo Soberano. O governo do Rio, na verdade, chegou ao encontro com Lula pedindo mais. A proposta, exposta por Levy, era de que coubesse aos Estados e municípios 50% do que a União apurar nas licitações. Lula quase cedeu.O ministro da Defesa, Nelson Jobim, presente ao jantar de domingo, fez a sugestão que prevaleceu, acalmando a tensão do governo do Rio. Os campos do pré-sal estão no mar territorial do Rio, São Paulo e Espírito Santo (a 300 quilômetros da costa). Desses, o Rio é o que concentra a maior área da "picanha azul", que é como o governo está chamando toda essa extensão, cujo formato é de uma suculenta picanha.Enquanto prevalecer o artigo 49, os Estados poderão ficar com 11,2% do que a União receber. Cálculo que pressupõe que, em cada bloco de exploração, 10% sejam distribuídos em royalties, 20% representem os custos da empresa contratada e 70% corresponda ao excedente de produção ("profit oil"). A cada licitação será definido que percentual dos 70% será destinado ao governo federal e que parte ficará com a empresa contratada.A sugestão de Rosinha Garotinho é de se fazer um regime misto. Do que couber à União nas licitações, 40% seria distribuído com base nos critérios da lei 9.748, que rege as concessões, e 60% seria integralmente da União. O que se fez para resolver o impasse criado pelo governador do Rio foi aplicar ao regime de partilha os mesmos cálculos usados nas concessões.Levy se baseou no artigo 20 da Constituição, que assegura aos Estados e municípios produtores participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural "ou compensação financeira por essa exploração". A compensação financeira pode ser feita mediante pagamento de royalties, por exemplo.A reunião no Alvorada foi longa. Por volta de 1 hora da manhã de segunda-feira Jobim ainda estava em uma sala do palácio com Levy, Bueno, os secretários de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, de Petróleo e Gás do Ministério das Minas e Energia, Marco Antônio Martins Almeida, e José Lima de Andrade Neves, presidente da BR Distribuidora. Lá, acrescentaram os dois artigos, apaziguando Cabral. Segundo relato de presentes, Serra e Hartung pouco se manifestaram sobre esse aspecto da lei.Dilma e o ministro Edison Lobão, também reunidos no jantar, não gostaram do arranjo de última hora de Levy e Jobim.Depois dessa vitória, para Cabral o jogo recomeça do zero. Acredita-se, no governo, que o Rio será "trucidado" no Congresso (segundo um qualificado assessor de Lula) pelas bancadas dos outros 26 governadores que também querem uma parte do dinheiro do pré-sal, por entenderem que a riqueza é do país e não apenas dos três Estados.Será uma batalha convencer o Congresso que, numa produção de R$ 100,00 num poço do pré-sal, supondo que a União receba 80% do excedente, a aplicação dos artigos 49 e 50 resultará numa distribuição em que caberá aos 24 Estados fora do pré-sal e aos milhares de municípios, R$ 0,875 (a título de royalties). A União ficará com 45% e o restante, afora os custos, será distribuído entre os Estados produtores do pré-sal (quase 27%0 e os seus respectivos municípios (5,5%).
O deputado Henrique Alves (PMDB-RN) já procurou os técnicos do governo para discutir como derrubar os artigos 49 e 50 do principal projeto de lei do novo marco regulatório do pré-sal. O parlamentar deve ser o relator do projeto que introduz o sistema de partilha de produção e, mesmo sem ter sido indicado oficialmente para a relatoria, já começou a discutir como substituir o que o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, arrancou de Lula no jantar de domingo, no Palácio da Alvorada.Estavam presentes no jantar que precedeu a divulgação do novo marco regulatório do pré-sal, na segunda feira, também os governadores de São Paulo, José Serra, do Espírito Santo, Paulo Hartung. Preparado para travar uma guerra, Cabral foi acompanhado por dois secretário: o de Desenvolvimento, Júlio Bueno, e da Fazenda, Joaquim Levy, ex-secretário do Tesouro Nacional e velho conhecido da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e do presidente Lula.A prefeita de Campos, Rosinha Garotinho, também procurou assessores do Ministério da Fazenda e das Minas e Energia, na quarta feira, para apresentar uma contraproposta ao texto do referido artigo que pode ser o ponto de partida para uma negociação no Congresso.O assunto envolve muito dinheiro e é complexo. Os dois artigos dizem que enquanto não houver uma lei específica mudando os royalties e a participação especial que vigora nas concessões, permanece tudo como está. Com esse dispositivo o Rio conseguiu garantir que os Estados produtores, os municípios confrontantes e os municípios com instalações necessárias à exploração do petróleo do pré-sal recebam, no regime de partilha de produção, o que receberiam se nessa área continuasse a vigorar o sistema de concessões.O projeto de lei original do Executivo remetia essa receita integralmente para o Fundo Soberano. O governo do Rio, na verdade, chegou ao encontro com Lula pedindo mais. A proposta, exposta por Levy, era de que coubesse aos Estados e municípios 50% do que a União apurar nas licitações. Lula quase cedeu.O ministro da Defesa, Nelson Jobim, presente ao jantar de domingo, fez a sugestão que prevaleceu, acalmando a tensão do governo do Rio. Os campos do pré-sal estão no mar territorial do Rio, São Paulo e Espírito Santo (a 300 quilômetros da costa). Desses, o Rio é o que concentra a maior área da "picanha azul", que é como o governo está chamando toda essa extensão, cujo formato é de uma suculenta picanha.Enquanto prevalecer o artigo 49, os Estados poderão ficar com 11,2% do que a União receber. Cálculo que pressupõe que, em cada bloco de exploração, 10% sejam distribuídos em royalties, 20% representem os custos da empresa contratada e 70% corresponda ao excedente de produção ("profit oil"). A cada licitação será definido que percentual dos 70% será destinado ao governo federal e que parte ficará com a empresa contratada.A sugestão de Rosinha Garotinho é de se fazer um regime misto. Do que couber à União nas licitações, 40% seria distribuído com base nos critérios da lei 9.748, que rege as concessões, e 60% seria integralmente da União. O que se fez para resolver o impasse criado pelo governador do Rio foi aplicar ao regime de partilha os mesmos cálculos usados nas concessões.Levy se baseou no artigo 20 da Constituição, que assegura aos Estados e municípios produtores participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural "ou compensação financeira por essa exploração". A compensação financeira pode ser feita mediante pagamento de royalties, por exemplo.A reunião no Alvorada foi longa. Por volta de 1 hora da manhã de segunda-feira Jobim ainda estava em uma sala do palácio com Levy, Bueno, os secretários de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, de Petróleo e Gás do Ministério das Minas e Energia, Marco Antônio Martins Almeida, e José Lima de Andrade Neves, presidente da BR Distribuidora. Lá, acrescentaram os dois artigos, apaziguando Cabral. Segundo relato de presentes, Serra e Hartung pouco se manifestaram sobre esse aspecto da lei.Dilma e o ministro Edison Lobão, também reunidos no jantar, não gostaram do arranjo de última hora de Levy e Jobim.Depois dessa vitória, para Cabral o jogo recomeça do zero. Acredita-se, no governo, que o Rio será "trucidado" no Congresso (segundo um qualificado assessor de Lula) pelas bancadas dos outros 26 governadores que também querem uma parte do dinheiro do pré-sal, por entenderem que a riqueza é do país e não apenas dos três Estados.Será uma batalha convencer o Congresso que, numa produção de R$ 100,00 num poço do pré-sal, supondo que a União receba 80% do excedente, a aplicação dos artigos 49 e 50 resultará numa distribuição em que caberá aos 24 Estados fora do pré-sal e aos milhares de municípios, R$ 0,875 (a título de royalties). A União ficará com 45% e o restante, afora os custos, será distribuído entre os Estados produtores do pré-sal (quase 27%0 e os seus respectivos municípios (5,5%).
Mi querida Argentina
Roberto Luis Troster - Valor Econômico - 04/09/2009
A Argentina vive momento tão ruim que o Papa Bento XVI disse recentemente que: "a pobreza na Argentina é um escândalo"
Era uma vez um país. Tinha e ainda tem tudo para se desenvolver: terras férteis, minérios, água abundante, fontes de energia, infra-estrutura industrial, bons vizinhos e capital humano. Tem destaques em todas as áreas do saber, alguns com reconhecimento internacional como quatro prêmios Nobel e autores traduzidos ao português. Um gênero publicado é o realismo fantástico, que mostra o absurdo como algo comum e crível.
Paradoxalmente, a realidade atual da Argentina supera a imaginação de seus escritores mais criativos. A cada dia que passa, mais um passo em direção ao desastre. Poder-se-iam escrever livros sobre o desmantelamento de seu futuro e as explicações absurdas. O trágico é que a trama é real e atual. Tudo começou há dois anos, com o que parecia ser a saída de uma crise.
Cristina Fernández de Kirchner assumiu em dezembro de 2007 com credenciais e condições de fazer acontecer. Era uma política conhecida nacionalmente, antes do marido ser candidato a presidente, e fez parte da geração que derrubou o governo militar em 1973, protestou no interregno populista e combateu a ditadura militar que se instalou em março de 1976 onde alguns lutaram até a morte por uma Argentina desenvolvida.
Foi eleita com amplo apoio popular e obteve maioria nas duas câmaras e nos governos provinciais. O país estava crescendo 8% ao ano com reservas folgadas, superávits fiscal e externo e havia a necessidade de correção de rota na condução da economia. Seus desafios eram três: normalizar o relacionamento com as finanças globais; manter o crescimento com investimentos e melhorar a inclusão social; enfim colocar racionalidade na política econômica vigente. Falhou. A bem da verdade, retrocedeu e o que poderia ser o fim de uma crise, se transformou no início de outra.
O default argentino não foi bem recebido no mundo bancário, mas foi visto como mandatório, o país estava num beco sem saída. A troca de papéis antigos por novos foi feita e era esperada uma regularização gradual das relações com o resto do mundo. A melhora nos termos de troca deu a folga de recursos que permitiria uma aproximação da comunidade financeira internacional. A atuação foi diametralmente oposta. O resultado é que os investimentos e empréstimos externos não retornaram e é um dos poucos países com fuga de capitais na atualidade. É difícil de acreditar que esteja acontecendo, considerando seu potencial.
A política econômica populista e míope está encolhendo seu futuro. Um exemplo emblemático é o tratamento dado à agropecuária, que foi um dos propulsores do crescimento na última década; a fertilidade natural dos pampas combinada com as novas tecnologias biológicas e empresariais elevaram sua produtividade a patamares inimagináveis. A atitude do governo foi de matar a galinha dos ovos de ouro com impostos escorchantes e restrições de acesso a mercados. Por primeira vez na história, a Argentina deve importar carne e trigo para consumo interno no ano que vem. A justificativa do governo é a de que combate as oligarquias e os latifúndios, um discurso da década de 1940.
Em outros setores o padrão é parecido: ausência de reformas, aumento da carga tributária e da burocracia. O ambiente macroeconômico se deteriorou rapidamente com a inflação acelerando, gastos públicos crescendo a taxas maiores que as receitas e dólar e desemprego subindo. A solução foi a tentativa de tabelamento de preços, o congelamento de tarifas com subsídios e a intervenção no Indec (o equivalente ao IBGE) acompanhada de denúncias de manipulação de estatísticas. Com números oficiais de crescimento e inflação melhores e credibilidade menor, a tensão com o setor produtivo aumentou e a popularidade do governo despencou.
Nas eleições legislativas de junho último, apenas 30% dos votos foram para candidatos governistas e o índice atual de rejeição à presidenta é de 50%. Surpreendentemente, sua reação foi de acelerar na direção errada. Já que falta pão, investe-se no circo. Com um discurso de que alguns empresários "seqüestram gols" (fazendo um paralelo com a ditadura militar), cancelou os contratos de transmissão de jogos em TV a cabo e fez um patrocínio equivalente a R$ 300 milhões por ano, para que as partidas de futebol sejam transmitidas pelos canais abertos. Mais déficit para gastos que não vão fazer sua popularidade crescer.
A lista de exemplos de falta de racionalidade é extensa. Estatizou-se a Aerolineas Argentinas que tinha um prejuízo diário de menos de R$ 2 milhões, hoje já está em R$ 5 milhões por dia; os que não voam pagam impostos para os passageiros. Tributa-se o jogo em 15% e a agropecuária em até 35%. Estatizou-se a previdência privada com o discurso de proteção a seus mutuários sem um cálculo atuarial e apropriando-se dos fundos agora e repassando os custos para os próximos governos. Resumindo, a economia está em rota de colisão. Já se fala na possibilidade de um novo default. Algo inimaginável há pouco tempo.
É um populismo tão míope que a situação dos pobres piorou. O Papa Bento XVI disse recentemente que: "a pobreza na Argentina é um escândalo". Não se sabe qual é o grau, pois os números do Indec falam em 15% e os da UCA em 39% da população nessa situação. A única certeza é que o casal Kirchner não corre o risco de ser incluído nessa estatística, pois seu patrimônio pessoal aumentou e bem. Não houve falta de racionalidade na condução dos negócios familiares. O ponto é que a verdadeira crise do país fica mais nítida a cada dia.
Se a notícia é ruim, mata-se o mensageiro. Este é o espírito do projeto da lei de radiodifusão que está sendo apresentado no congresso esta semana. A lei limita o número de canais que uma empresa pode ter, determina que apenas um terço seja de empresas privadas e impõe a renovação da licença a cada dois anos (leia-se uma ameaça permanente à liberdade de expressão). A justificativa é a necessidade de desmonopolizar o setor e em memória de 118 jornalistas desaparecidos.
Falta o projeto mais importante, o da Argentina sonhada na virada da década de 1970 também dedicado aos mesmos 118 desaparecidos, bem como aos demais que morreram, às dezenas de milhares que emigraram e aos milhões que moram lá. Um projeto ambicioso, consistente com o potencial de seu país e seu povo. As condições para um final feliz existem.
A Argentina vive momento tão ruim que o Papa Bento XVI disse recentemente que: "a pobreza na Argentina é um escândalo"
Era uma vez um país. Tinha e ainda tem tudo para se desenvolver: terras férteis, minérios, água abundante, fontes de energia, infra-estrutura industrial, bons vizinhos e capital humano. Tem destaques em todas as áreas do saber, alguns com reconhecimento internacional como quatro prêmios Nobel e autores traduzidos ao português. Um gênero publicado é o realismo fantástico, que mostra o absurdo como algo comum e crível.
Paradoxalmente, a realidade atual da Argentina supera a imaginação de seus escritores mais criativos. A cada dia que passa, mais um passo em direção ao desastre. Poder-se-iam escrever livros sobre o desmantelamento de seu futuro e as explicações absurdas. O trágico é que a trama é real e atual. Tudo começou há dois anos, com o que parecia ser a saída de uma crise.
Cristina Fernández de Kirchner assumiu em dezembro de 2007 com credenciais e condições de fazer acontecer. Era uma política conhecida nacionalmente, antes do marido ser candidato a presidente, e fez parte da geração que derrubou o governo militar em 1973, protestou no interregno populista e combateu a ditadura militar que se instalou em março de 1976 onde alguns lutaram até a morte por uma Argentina desenvolvida.
Foi eleita com amplo apoio popular e obteve maioria nas duas câmaras e nos governos provinciais. O país estava crescendo 8% ao ano com reservas folgadas, superávits fiscal e externo e havia a necessidade de correção de rota na condução da economia. Seus desafios eram três: normalizar o relacionamento com as finanças globais; manter o crescimento com investimentos e melhorar a inclusão social; enfim colocar racionalidade na política econômica vigente. Falhou. A bem da verdade, retrocedeu e o que poderia ser o fim de uma crise, se transformou no início de outra.
O default argentino não foi bem recebido no mundo bancário, mas foi visto como mandatório, o país estava num beco sem saída. A troca de papéis antigos por novos foi feita e era esperada uma regularização gradual das relações com o resto do mundo. A melhora nos termos de troca deu a folga de recursos que permitiria uma aproximação da comunidade financeira internacional. A atuação foi diametralmente oposta. O resultado é que os investimentos e empréstimos externos não retornaram e é um dos poucos países com fuga de capitais na atualidade. É difícil de acreditar que esteja acontecendo, considerando seu potencial.
A política econômica populista e míope está encolhendo seu futuro. Um exemplo emblemático é o tratamento dado à agropecuária, que foi um dos propulsores do crescimento na última década; a fertilidade natural dos pampas combinada com as novas tecnologias biológicas e empresariais elevaram sua produtividade a patamares inimagináveis. A atitude do governo foi de matar a galinha dos ovos de ouro com impostos escorchantes e restrições de acesso a mercados. Por primeira vez na história, a Argentina deve importar carne e trigo para consumo interno no ano que vem. A justificativa do governo é a de que combate as oligarquias e os latifúndios, um discurso da década de 1940.
Em outros setores o padrão é parecido: ausência de reformas, aumento da carga tributária e da burocracia. O ambiente macroeconômico se deteriorou rapidamente com a inflação acelerando, gastos públicos crescendo a taxas maiores que as receitas e dólar e desemprego subindo. A solução foi a tentativa de tabelamento de preços, o congelamento de tarifas com subsídios e a intervenção no Indec (o equivalente ao IBGE) acompanhada de denúncias de manipulação de estatísticas. Com números oficiais de crescimento e inflação melhores e credibilidade menor, a tensão com o setor produtivo aumentou e a popularidade do governo despencou.
Nas eleições legislativas de junho último, apenas 30% dos votos foram para candidatos governistas e o índice atual de rejeição à presidenta é de 50%. Surpreendentemente, sua reação foi de acelerar na direção errada. Já que falta pão, investe-se no circo. Com um discurso de que alguns empresários "seqüestram gols" (fazendo um paralelo com a ditadura militar), cancelou os contratos de transmissão de jogos em TV a cabo e fez um patrocínio equivalente a R$ 300 milhões por ano, para que as partidas de futebol sejam transmitidas pelos canais abertos. Mais déficit para gastos que não vão fazer sua popularidade crescer.
A lista de exemplos de falta de racionalidade é extensa. Estatizou-se a Aerolineas Argentinas que tinha um prejuízo diário de menos de R$ 2 milhões, hoje já está em R$ 5 milhões por dia; os que não voam pagam impostos para os passageiros. Tributa-se o jogo em 15% e a agropecuária em até 35%. Estatizou-se a previdência privada com o discurso de proteção a seus mutuários sem um cálculo atuarial e apropriando-se dos fundos agora e repassando os custos para os próximos governos. Resumindo, a economia está em rota de colisão. Já se fala na possibilidade de um novo default. Algo inimaginável há pouco tempo.
É um populismo tão míope que a situação dos pobres piorou. O Papa Bento XVI disse recentemente que: "a pobreza na Argentina é um escândalo". Não se sabe qual é o grau, pois os números do Indec falam em 15% e os da UCA em 39% da população nessa situação. A única certeza é que o casal Kirchner não corre o risco de ser incluído nessa estatística, pois seu patrimônio pessoal aumentou e bem. Não houve falta de racionalidade na condução dos negócios familiares. O ponto é que a verdadeira crise do país fica mais nítida a cada dia.
Se a notícia é ruim, mata-se o mensageiro. Este é o espírito do projeto da lei de radiodifusão que está sendo apresentado no congresso esta semana. A lei limita o número de canais que uma empresa pode ter, determina que apenas um terço seja de empresas privadas e impõe a renovação da licença a cada dois anos (leia-se uma ameaça permanente à liberdade de expressão). A justificativa é a necessidade de desmonopolizar o setor e em memória de 118 jornalistas desaparecidos.
Falta o projeto mais importante, o da Argentina sonhada na virada da década de 1970 também dedicado aos mesmos 118 desaparecidos, bem como aos demais que morreram, às dezenas de milhares que emigraram e aos milhões que moram lá. Um projeto ambicioso, consistente com o potencial de seu país e seu povo. As condições para um final feliz existem.
quarta-feira, setembro 02, 2009
Quem vai dançar o tango?
TOSTÃO - JORNAL DO BRASIL - 02/09/09
O Brasil possui hoje melhor conjunto e melhores jogadores do que a Argentina. O Brasil está pronto para disputar o Mundial, com boas chances de vencer. A Argentina ain da não definiu um esquema tático, nem vários titulares e reservas.
A grande dúvida da Argentina, que vem antes de Maradona ser o técnico, é se o time joga com Messi e mais dois ou um atacante. Nesse último caso, entraria outro jogador de meio de campo. A dúvida é parecida com a do Brasil, quando Ronaldinho era convocado. Dunga não sabia se escalava Robinho, Kaká e Ronaldinho juntos ou se trocava Ronaldinho por mais um armador, para melhorar a marcação.
Sábado, o que será mais decisivo: jogar em casa, a necessidade de vencer e a pressão que a Argentina deve fazer ou a excelente defesa e os ótimos contra-ataques do Brasil? Assim, o Brasil ganhou várias vezes da Argentina e goleou, fora de casa, o Uruguai. Já contra Pa ra guai e Equador, o Brasil foi pressionado e só não perdeu porque Júlio César fez extraordinárias defesas.
Como disse Maradona, Maicon é um trator. Sua atuação contra o Milan foi espetacular. Ainda há muitos no Brasil que não gostam do lateral. Deve ser porque ele é alto, forte e pouco habilidoso. Além da força física, Maicon possui ótima técnica. Na última partida contra a Argentina, no Mi neirão, Gutiérrez entrou em campo só para anulá-lo. Con seguiu. Sábado, Gutiérrez estará fora, contundido.
Na Inter, Maicon e Zanetti formam uma ótima dupla. Maicon, de lateral, e Zanetti, de armador, pela direita. Na seleção da Argentina, Zanetti é lateral. Não há outro. Zanetti não tem mais a juventude e a força física para de fender e atacar.
Na lateral esquerda, André Santos ainda não garantiu seu lugar, mas é melhor que os laterais da Argentina, Heinze e Papas.
O meio de campo da Argentina, com Mascherano, Gago e Verón, é superior ao do Brasil. Essa diferença diminuiu após a entrada de Felipe Melo.
Agüero é outra grande esperança dos argentinos. Está cada dia melhor. Ele e Luís Fabiano mereciam jogar em um dos principais times da Europa.
Recebi críticas por escrever que a seleção não tem um bom substituto para Robinho. Seria Ro naldinho, ou mesmo Diego, que entraria no lugar de Kaká, e esse, no de Robinho. Os dois não têm sido convocados. Não há outros. Ronaldinho virou outro jogador, e Diego não conseguiu um lugar na seleção. Mesmo quando atua mal, Robinho, por se movimentar muito, facilita para os companheiros.
A Argentina tem Messi, e o Bra sil tem Kaká. Dois craques. Pos suem ótima técnica. Messi é mais habilidoso e mais encantador. Kaká é mais alto, forte e utiliza muito bem sua força física.
Antes da Copa de 2002, a Argen tina estava muito melhor que o Brasil. A Argentina foi eliminada na primeira fase, e o Brasil foi campeão mundial. Portanto, não é momento para euforia, mesmo se o Brasil ganhar bem.
Se perder, e os concorrentes ven cerem, a Argentina ficará em uma situação bastante difícil. Seria triste uma copa sem a Argentina e sem Messi. Só restaria aos argentinos chorar e dançar um tango.
O Brasil possui hoje melhor conjunto e melhores jogadores do que a Argentina. O Brasil está pronto para disputar o Mundial, com boas chances de vencer. A Argentina ain da não definiu um esquema tático, nem vários titulares e reservas.
A grande dúvida da Argentina, que vem antes de Maradona ser o técnico, é se o time joga com Messi e mais dois ou um atacante. Nesse último caso, entraria outro jogador de meio de campo. A dúvida é parecida com a do Brasil, quando Ronaldinho era convocado. Dunga não sabia se escalava Robinho, Kaká e Ronaldinho juntos ou se trocava Ronaldinho por mais um armador, para melhorar a marcação.
Sábado, o que será mais decisivo: jogar em casa, a necessidade de vencer e a pressão que a Argentina deve fazer ou a excelente defesa e os ótimos contra-ataques do Brasil? Assim, o Brasil ganhou várias vezes da Argentina e goleou, fora de casa, o Uruguai. Já contra Pa ra guai e Equador, o Brasil foi pressionado e só não perdeu porque Júlio César fez extraordinárias defesas.
Como disse Maradona, Maicon é um trator. Sua atuação contra o Milan foi espetacular. Ainda há muitos no Brasil que não gostam do lateral. Deve ser porque ele é alto, forte e pouco habilidoso. Além da força física, Maicon possui ótima técnica. Na última partida contra a Argentina, no Mi neirão, Gutiérrez entrou em campo só para anulá-lo. Con seguiu. Sábado, Gutiérrez estará fora, contundido.
Na Inter, Maicon e Zanetti formam uma ótima dupla. Maicon, de lateral, e Zanetti, de armador, pela direita. Na seleção da Argentina, Zanetti é lateral. Não há outro. Zanetti não tem mais a juventude e a força física para de fender e atacar.
Na lateral esquerda, André Santos ainda não garantiu seu lugar, mas é melhor que os laterais da Argentina, Heinze e Papas.
O meio de campo da Argentina, com Mascherano, Gago e Verón, é superior ao do Brasil. Essa diferença diminuiu após a entrada de Felipe Melo.
Agüero é outra grande esperança dos argentinos. Está cada dia melhor. Ele e Luís Fabiano mereciam jogar em um dos principais times da Europa.
Recebi críticas por escrever que a seleção não tem um bom substituto para Robinho. Seria Ro naldinho, ou mesmo Diego, que entraria no lugar de Kaká, e esse, no de Robinho. Os dois não têm sido convocados. Não há outros. Ronaldinho virou outro jogador, e Diego não conseguiu um lugar na seleção. Mesmo quando atua mal, Robinho, por se movimentar muito, facilita para os companheiros.
A Argentina tem Messi, e o Bra sil tem Kaká. Dois craques. Pos suem ótima técnica. Messi é mais habilidoso e mais encantador. Kaká é mais alto, forte e utiliza muito bem sua força física.
Antes da Copa de 2002, a Argen tina estava muito melhor que o Brasil. A Argentina foi eliminada na primeira fase, e o Brasil foi campeão mundial. Portanto, não é momento para euforia, mesmo se o Brasil ganhar bem.
Se perder, e os concorrentes ven cerem, a Argentina ficará em uma situação bastante difícil. Seria triste uma copa sem a Argentina e sem Messi. Só restaria aos argentinos chorar e dançar um tango.
Marcha da insensatez
FERNANDO RODRIGUES - Folha de S. Paulo - 02/09/2009
É real a possibilidade de o Senado aprovar hoje a chamada reforma eleitoral. O texto voltará para a Câmara e será rapidamente analisado pelos deputados. Vai valer já nas eleições de 2010.Ruim ou inócuo quase do começo ao fim, o aspecto mais nocivo do projeto são as limitações ao livre uso da internet durante o período eleitoral do ano que vem. Num misto de ignorância e má-fé, os congressistas decidiram equiparar a web à TV e ao rádio.Para quem não chegou hoje de Alfa Centauro, a anomalia é conhecida durante anos eleitorais. O apresentador de telejornal ou de um noticiário em rádio, num momento, começa a recitar os nomes e agendas de todos candidatos, um a um. Entram todos. O político nanico sem a menor relevância, o escroque, o "boca de aluguel" a serviço de alguém. Não importa. Os programas jornalísticos em TV e rádio estão obrigados, por força da lei, a dar espaço a esse trem fantasma que só existe por causa dessa exigência.Agora, com a nova lei prestes a ser aprovada, a internet terá de se submeter a uma tutela idêntica. Portais, sites e blogs não poderão atrever-se a fazer entrevistas com os principais candidatos. Mesmo sendo empresas privadas, e não concessões públicas, terão de ceder espaço equânime a todos.Debates em vídeo na internet também seguirão a mesma regra.Todos os candidatos terão de ser convidados. Se um não aceitar, nada feito. Se todos aceitarem, assiste-se a um encontro inútil. Os gênios por trás desse monstrengo são Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e Marco Maciel (DEM-PE). Mas Aloizio Mercadante (PT-SP) também esteve ontem na reunião na qual tramou-se a aurora boreal do atraso.De todas as estripulias na política neste ano, essa é a pior. Condenará o país para sempre a ter uma internet manietada em anos eleitorais.
É real a possibilidade de o Senado aprovar hoje a chamada reforma eleitoral. O texto voltará para a Câmara e será rapidamente analisado pelos deputados. Vai valer já nas eleições de 2010.Ruim ou inócuo quase do começo ao fim, o aspecto mais nocivo do projeto são as limitações ao livre uso da internet durante o período eleitoral do ano que vem. Num misto de ignorância e má-fé, os congressistas decidiram equiparar a web à TV e ao rádio.Para quem não chegou hoje de Alfa Centauro, a anomalia é conhecida durante anos eleitorais. O apresentador de telejornal ou de um noticiário em rádio, num momento, começa a recitar os nomes e agendas de todos candidatos, um a um. Entram todos. O político nanico sem a menor relevância, o escroque, o "boca de aluguel" a serviço de alguém. Não importa. Os programas jornalísticos em TV e rádio estão obrigados, por força da lei, a dar espaço a esse trem fantasma que só existe por causa dessa exigência.Agora, com a nova lei prestes a ser aprovada, a internet terá de se submeter a uma tutela idêntica. Portais, sites e blogs não poderão atrever-se a fazer entrevistas com os principais candidatos. Mesmo sendo empresas privadas, e não concessões públicas, terão de ceder espaço equânime a todos.Debates em vídeo na internet também seguirão a mesma regra.Todos os candidatos terão de ser convidados. Se um não aceitar, nada feito. Se todos aceitarem, assiste-se a um encontro inútil. Os gênios por trás desse monstrengo são Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e Marco Maciel (DEM-PE). Mas Aloizio Mercadante (PT-SP) também esteve ontem na reunião na qual tramou-se a aurora boreal do atraso.De todas as estripulias na política neste ano, essa é a pior. Condenará o país para sempre a ter uma internet manietada em anos eleitorais.
terça-feira, setembro 01, 2009
Linhas Paralelas =
Já conhecia a dupla canadense Junior Boys, formada por Jeremy Greenspan e Matt Didemus, porém, ignorava a forte influência de Norman McLaren em seu trabalho, como o próprio Greenspan declara:
"Todas as coordenadas de meus interesses e minhas idéias convergiram a Norm McLaren, por alguma razão. Eu estava ouvindo muito dessa música experimental de sintetizador, e ele mesmo foi um inovador completo, criando essas sínteses sonoras que ninguém nunca tinha feito antes"; "...Eu quis usá-lo como uma analogia a tudo que eu queria ser como artista, tudo que pensei ser importante".
O título do terceiro disco da banda, 'Begone Dull Care' é o nome de uma animação de oito minutos do artista (1949), que pintava diretamente sobre o rolo de filme em movimento, e com ranhuras em suas bordas criava curiosas interferências eletrônicas ao rodar a película no projetor.
Abaixo, ótimo vídeo da faixa de abertura 'Paralell Lines', que dentre outras influências, me remeteu sobretudo a Blondie.
"Todas as coordenadas de meus interesses e minhas idéias convergiram a Norm McLaren, por alguma razão. Eu estava ouvindo muito dessa música experimental de sintetizador, e ele mesmo foi um inovador completo, criando essas sínteses sonoras que ninguém nunca tinha feito antes"; "...Eu quis usá-lo como uma analogia a tudo que eu queria ser como artista, tudo que pensei ser importante".
O título do terceiro disco da banda, 'Begone Dull Care' é o nome de uma animação de oito minutos do artista (1949), que pintava diretamente sobre o rolo de filme em movimento, e com ranhuras em suas bordas criava curiosas interferências eletrônicas ao rodar a película no projetor.
Abaixo, ótimo vídeo da faixa de abertura 'Paralell Lines', que dentre outras influências, me remeteu sobretudo a Blondie.
O dogma Lula é irrevogável
ARNALDO JABOR - O GLOBO - 01/09/09
Por que Aloizio Mercadante não manteve sua "irrevogabilidade"? Porque não teve coragem de enfrentar Lula.
Mas, por que não teve? A razão é a mesma que acomete muitos intelectuais "não petistas" : Lula é "inatacável".
Poucas pessoas têm coragem de contestar um ex-operário, aparentemente honesto, que muito sofreu para chegar onde está. Além disso, Lula tem a cor do que seria a pátina da "revolução", de uma "justiça social" vaga.
Por isso, pergunto-me: será que os intelectuais não veem que nossa democracia conquistada há vinte anos está sendo roída pelos ratos da velha política?
Não se trata (nem estou pedindo) que esculachem o presidente.
Lula tem várias qualidades, mas está usando só os seus defeitos: autoritarismo de Ibope alto, "lua de mel consigo mesmo", confusão conceitual no ensopadinho ideológico do "lulismo" (discursos populistas e práticas oportunistas), ausência de um plano concreto, além do virtual e midiático PAC, alianças com os mais sujos para "governar" e ficando incapaz de fazê-lo pelas mesmas alianças que agora o manietam.
A atitude de Lula de se colocar "acima" da política como sendo "coisa menor" é uma sopa no mel para corruptos e vagabundos. No dia seguinte à absolvição de Sarney, o PMDB não deu trégua e já quer mais emendas orçamentárias, no peito.
Alguns intelectuais ficam "angustiadinhos": "Ah...eu tinha um sonho...que se esfumou..." - choram os militantes imaginários, e nada fazem. A covardia intelectual é grande. Há o medo de ser chamado de reacionário ou careta. Todos continuam com a mania de que são "radicais" (como ser, por exemplo, corintiano doente).
Continuam ativos os três tipos exemplares de "radicais": os radicais de cervejaria, os radicais de enfermaria e os radicais de estrebaria. Os frívolos, os burros e os loucos. Uns bebem e falam em revolução; outros zurram e os terceiros alucinam. Padecem da doença herdada (resistente a antibióticos) de um voluntarismo com ecos stalinistas, cruzada com o germe do sindicalismo oportunista. Para eles, "administrar" é visto como ato menor, até meio reacionário, pois administrar é manter, preservar - coisa de capitalistas.
Lula é dogma. Diante dele, abole-se o sentido crítico. É como desconfiar da virgindade de Nossa Senhora. Fácil era esculhambar FHC.
Volto a dizer: não quero que "demonizem" Lula; pelo contrário, quero até que o ajudem nessa armadilha em que o país (e ele) caiu por sua atitude.
Lula viaja nessa maionese ambivalente (que até a "The Economist" denuncia) de leninismo sindicalista com apresentador de TV, um "mix" de Waldick Soriano com Getúlio.
Com essas alianças, Lula revigorou o pior problema do país: o patrimonialismo endêmico, que tinha diminuído depois de FHC. Temos agora uma espécie de "patrimonialismo de Estado": boquinhas para pelegos (200 mil) e pernas abertas para o PMDB.
Estamos diante de um momento histórico gravíssimo, com os dois tumores gêmeos de nossa doença: a direita do atraso e a esquerda do atraso. Como escreveu Bobbio, se há uma coisa que une esquerda e direita, é o ódio à democracia.
Essa crise é tão sintomática, tão exemplar para a mudança do país, que não podia ser desperdiçada pelos pensadores livres. É uma tomografia que mostra as glândulas, as secreções do corpo brasileiro - um diagnóstico completo. Esse espasmo de verdade, essa brutal explosão de nossas vísceras, talvez seja perdida porque as manobras do atraso de direita e do atraso de esquerda trabalham unidas para que a mentira vença.
E intelectuais sérios, artistas famosos e celebridades não abrem a boca. Onde estão os velhos manifestos de que eles gostavam tanto?
Quando haverá manifestações da sociedade para confrontar a ópera bufa que rola à nossa frente? As denúncias foram todas provadas, a imprensa denuncia e é ameaçada, enquanto os canalhas se sentem protegidos pelo labirinto do Judiciário. E não se trata mais de mensalões e mensalinhos, netinhos ou netinhas nomeadas; trata-se da implosão de nossas instituições republicanas, feita pelos próprios donos do poder.
O Brasil está entregue à mentira oficializada, manipulada pelo governo e o Legislativo, num jogo de "barata-voa" com as denúncias, provas cabais, evidências solares, tudo diante dos olhos impotentes da opinião pública. E homens notáveis do país estão calados. Quando se manifestam isoladamente, são apenas suspiros esparsos, folhas de outono, lamentos doloridos...
Mudar é trair, para os tais "radicais" dos três tipos. Ninguém tem coragem de admitir a invencibilidade do capitalismo global, com benesses e horrores (como a vida). Ninguém abre mão da fé em utopias ridículas - o presente é chato, dá trabalho; preferem um futuro imaginário.
Não admitem que um "choque de capitalismo" seria a única bomba a arrebentar a casamata paralítica do Estado inchado, gastador e ineficiente, e que isso seria muito mais progressista que velhas ideias finalistas, esse "platonismo" de galinheiro sobre o "todo, o futuro, o ser, a história". Eles não abrem mão dessa "elegância" filosófica ridícula. Só pensam no que deveria ser e não enfrentam o que inexoravelmente é. Preferem a paz de suas apostilas encardidas. Há uma grande indigência teórica sobre o Brasil contemporâneo. Ignoram a estrutura colonial e preferem continuar com teses mortas.
O mito do messianismo é muito forte, com sua origem religiosa. Não entendem que o homem de "esquerda" de hoje tem que perder fé e esperança, e que o verdadeiro progressista tem de partir do não-sabido e inventar caminhos.
Só uma força plebiscitária poderá mover essa grande pizza envenenada.
Por isso, pergunto, como os antigos: quando haverá uma manifestação séria da opinião pública? Uma ação continuada de notáveis da República para impedir esse jogo de carniça entre os Três Poderes, essa vergonha que humilha o Brasil? Vamos continuar de braços cruzados?
Por que Aloizio Mercadante não manteve sua "irrevogabilidade"? Porque não teve coragem de enfrentar Lula.
Mas, por que não teve? A razão é a mesma que acomete muitos intelectuais "não petistas" : Lula é "inatacável".
Poucas pessoas têm coragem de contestar um ex-operário, aparentemente honesto, que muito sofreu para chegar onde está. Além disso, Lula tem a cor do que seria a pátina da "revolução", de uma "justiça social" vaga.
Por isso, pergunto-me: será que os intelectuais não veem que nossa democracia conquistada há vinte anos está sendo roída pelos ratos da velha política?
Não se trata (nem estou pedindo) que esculachem o presidente.
Lula tem várias qualidades, mas está usando só os seus defeitos: autoritarismo de Ibope alto, "lua de mel consigo mesmo", confusão conceitual no ensopadinho ideológico do "lulismo" (discursos populistas e práticas oportunistas), ausência de um plano concreto, além do virtual e midiático PAC, alianças com os mais sujos para "governar" e ficando incapaz de fazê-lo pelas mesmas alianças que agora o manietam.
A atitude de Lula de se colocar "acima" da política como sendo "coisa menor" é uma sopa no mel para corruptos e vagabundos. No dia seguinte à absolvição de Sarney, o PMDB não deu trégua e já quer mais emendas orçamentárias, no peito.
Alguns intelectuais ficam "angustiadinhos": "Ah...eu tinha um sonho...que se esfumou..." - choram os militantes imaginários, e nada fazem. A covardia intelectual é grande. Há o medo de ser chamado de reacionário ou careta. Todos continuam com a mania de que são "radicais" (como ser, por exemplo, corintiano doente).
Continuam ativos os três tipos exemplares de "radicais": os radicais de cervejaria, os radicais de enfermaria e os radicais de estrebaria. Os frívolos, os burros e os loucos. Uns bebem e falam em revolução; outros zurram e os terceiros alucinam. Padecem da doença herdada (resistente a antibióticos) de um voluntarismo com ecos stalinistas, cruzada com o germe do sindicalismo oportunista. Para eles, "administrar" é visto como ato menor, até meio reacionário, pois administrar é manter, preservar - coisa de capitalistas.
Lula é dogma. Diante dele, abole-se o sentido crítico. É como desconfiar da virgindade de Nossa Senhora. Fácil era esculhambar FHC.
Volto a dizer: não quero que "demonizem" Lula; pelo contrário, quero até que o ajudem nessa armadilha em que o país (e ele) caiu por sua atitude.
Lula viaja nessa maionese ambivalente (que até a "The Economist" denuncia) de leninismo sindicalista com apresentador de TV, um "mix" de Waldick Soriano com Getúlio.
Com essas alianças, Lula revigorou o pior problema do país: o patrimonialismo endêmico, que tinha diminuído depois de FHC. Temos agora uma espécie de "patrimonialismo de Estado": boquinhas para pelegos (200 mil) e pernas abertas para o PMDB.
Estamos diante de um momento histórico gravíssimo, com os dois tumores gêmeos de nossa doença: a direita do atraso e a esquerda do atraso. Como escreveu Bobbio, se há uma coisa que une esquerda e direita, é o ódio à democracia.
Essa crise é tão sintomática, tão exemplar para a mudança do país, que não podia ser desperdiçada pelos pensadores livres. É uma tomografia que mostra as glândulas, as secreções do corpo brasileiro - um diagnóstico completo. Esse espasmo de verdade, essa brutal explosão de nossas vísceras, talvez seja perdida porque as manobras do atraso de direita e do atraso de esquerda trabalham unidas para que a mentira vença.
E intelectuais sérios, artistas famosos e celebridades não abrem a boca. Onde estão os velhos manifestos de que eles gostavam tanto?
Quando haverá manifestações da sociedade para confrontar a ópera bufa que rola à nossa frente? As denúncias foram todas provadas, a imprensa denuncia e é ameaçada, enquanto os canalhas se sentem protegidos pelo labirinto do Judiciário. E não se trata mais de mensalões e mensalinhos, netinhos ou netinhas nomeadas; trata-se da implosão de nossas instituições republicanas, feita pelos próprios donos do poder.
O Brasil está entregue à mentira oficializada, manipulada pelo governo e o Legislativo, num jogo de "barata-voa" com as denúncias, provas cabais, evidências solares, tudo diante dos olhos impotentes da opinião pública. E homens notáveis do país estão calados. Quando se manifestam isoladamente, são apenas suspiros esparsos, folhas de outono, lamentos doloridos...
Mudar é trair, para os tais "radicais" dos três tipos. Ninguém tem coragem de admitir a invencibilidade do capitalismo global, com benesses e horrores (como a vida). Ninguém abre mão da fé em utopias ridículas - o presente é chato, dá trabalho; preferem um futuro imaginário.
Não admitem que um "choque de capitalismo" seria a única bomba a arrebentar a casamata paralítica do Estado inchado, gastador e ineficiente, e que isso seria muito mais progressista que velhas ideias finalistas, esse "platonismo" de galinheiro sobre o "todo, o futuro, o ser, a história". Eles não abrem mão dessa "elegância" filosófica ridícula. Só pensam no que deveria ser e não enfrentam o que inexoravelmente é. Preferem a paz de suas apostilas encardidas. Há uma grande indigência teórica sobre o Brasil contemporâneo. Ignoram a estrutura colonial e preferem continuar com teses mortas.
O mito do messianismo é muito forte, com sua origem religiosa. Não entendem que o homem de "esquerda" de hoje tem que perder fé e esperança, e que o verdadeiro progressista tem de partir do não-sabido e inventar caminhos.
Só uma força plebiscitária poderá mover essa grande pizza envenenada.
Por isso, pergunto, como os antigos: quando haverá uma manifestação séria da opinião pública? Uma ação continuada de notáveis da República para impedir esse jogo de carniça entre os Três Poderes, essa vergonha que humilha o Brasil? Vamos continuar de braços cruzados?
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