"Há 7 elementos cruciais na feitura de um filme, por ordem alfabética: o ator, o câmera, o desenhista de produção, o diretor, o montador, o produtor e o roteirista."
"Peter Benchley lê um artigo de jornal sobre um pescador que capturou um tubarão de 2.500Kg na costa de Long Island, e fica se perguntando o que aconteceria se o tubarão achasse ali um bom lugar para morar. Aí vai e escreve um romance sobre o assunto. Zanuck-Brown compram os direitos de filmagem desse livro. Benchley e Carl Gottlieb o transformam num roteiro. Bill Butler é contratado para fazer a fotografia. Joseph Alves Jr., para o desenho de produção; Verna Fields, para a montagem; e, talvez mais importante do que tudo, Bob Mattey é tirado de sua aposentadoria para construir o monstro. E John Williams compõe aquele que talvez seja seu mais memorável score. Bem, em nome de quê Steven Spielberg pode ser o autor do filme? Mas, quando se fala do filme, fal,a-se de 'Tubarão, de Steven Spielberg'."
Este exemplo de como as coisas funcionam no cinema, talvez seja o cerne principal do livro "Adventures in The Screen Trade" (1984), do escritor e roteirista William Goldman. Alguns podem dizer que escreve em nome de uma causa própria, já que ele próprio é uma grande "vítima" da ditatorial Teoria do Autor, alguns exemplos mais notórios: Butch Cassidy, um filme de George Roy Hill; All the president's Men, um filme de Alan J. Pakula; Marathon Man, um filme de John Schlesinger... Embora Goldman seja roteirista de todos e, como é comum no cinema americano, entrou em cada um desses projetos muito antes do diretor sequer ser escolhido, nunca ficou vinculado ao sucesso da obra final.
Goldman relembra uma entrevista de Godard alguns anos antes, onde admite que ele e Truffaut nunca acreditaram de verdade naquela história do autor, e só a inventaram para chamar atenção sobre si próprios e infernizar a vida dos veteranos do cinema francês, cujo lugar pretendiam ocupar (e de fato ocuparam). Por fim, Goldman lamenta a retumbante vitória da teoria do autor pois já há vários anos jão nem se fala mais nela. Não é mais preciso. Para a mídia e para o público, o diretor é o único e verdadeiro autor, mesmo que estreante e solidamente imaturo.
Leitura essencial para apreciadores da arte cinematográfica.