quarta-feira, julho 29, 2009

Cinema de autor?



"Há 7 elementos cruciais na feitura de um filme, por ordem alfabética: o ator, o câmera, o desenhista de produção, o diretor, o montador, o produtor e o roteirista."






"Peter Benchley lê um artigo de jornal sobre um pescador que capturou um tubarão de 2.500Kg na costa de Long Island, e fica se perguntando o que aconteceria se o tubarão achasse ali um bom lugar para morar. Aí vai e escreve um romance sobre o assunto. Zanuck-Brown compram os direitos de filmagem desse livro. Benchley e Carl Gottlieb o transformam num roteiro. Bill Butler é contratado para fazer a fotografia. Joseph Alves Jr., para o desenho de produção; Verna Fields, para a montagem; e, talvez mais importante do que tudo, Bob Mattey é tirado de sua aposentadoria para construir o monstro. E John Williams compõe aquele que talvez seja seu mais memorável score. Bem, em nome de quê Steven Spielberg pode ser o autor do filme? Mas, quando se fala do filme, fal,a-se de 'Tubarão, de Steven Spielberg'."

Este exemplo de como as coisas funcionam no cinema, talvez seja o cerne principal do livro "Adventures in The Screen Trade" (1984), do escritor e roteirista William Goldman. Alguns podem dizer que escreve em nome de uma causa própria, já que ele próprio é uma grande "vítima" da ditatorial Teoria do Autor, alguns exemplos mais notórios: Butch Cassidy, um filme de George Roy Hill; All the president's Men, um filme de Alan J. Pakula; Marathon Man, um filme de John Schlesinger... Embora Goldman seja roteirista de todos e, como é comum no cinema americano, entrou em cada um desses projetos muito antes do diretor sequer ser escolhido, nunca ficou vinculado ao sucesso da obra final.

Goldman relembra uma entrevista de Godard alguns anos antes, onde admite que ele e Truffaut nunca acreditaram de verdade naquela história do autor, e só a inventaram para chamar atenção sobre si próprios e infernizar a vida dos veteranos do cinema francês, cujo lugar pretendiam ocupar (e de fato ocuparam). Por fim, Goldman lamenta a retumbante vitória da teoria do autor pois já há vários anos jão nem se fala mais nela. Não é mais preciso. Para a mídia e para o público, o diretor é o único e verdadeiro autor, mesmo que estreante e solidamente imaturo.

Leitura essencial para apreciadores da arte cinematográfica.

segunda-feira, julho 20, 2009

Caras-pintadas-de-branco

Por IGOR GIELOW

BRASÍLIA - Em agosto de 2005, usei o termo do título acima neste espaço para descrever a metamorfose da UNE em mais uma filial chapa-branca de apoio ao governo Lula. Na época, o Planalto submergia na lama do mensalão.
Passados quase quatro anos, o comportamento da UNE em seu congresso encerrado ontem deu nova dimensão à observação.
Bancados pela Petrobras, os "estudantes" protestaram contra a CPI que visa investigar a estatal.
Na palavra de seus dirigentes, uma coisa nada tem a ver com a outra, o "petróleo é nosso" e afins.
Hoje as verbas federais se igualam à receita das carteirinhas de estudante na composição do cofre da UNE.
Em 2005, disse que a entidade "jogava sua história no lixo" ao apoiar cegamente Lula no mensalão.
Talvez tenha sido generoso.
Se merece análise o seu papel na ditadura, geralmente a UNE é mais associada à campanha pelo impeachment de Fernando Collor em 1992.
O jornal britânico "The Observer" publicou uma ótima reportagem ontem sobre a mitificação ocidental da "revolução" que derrubou o comunismo na Romênia 20 anos atrás.
Nem em Timisoara alguém acredita hoje ter havido tal coisa.
Ceaucescu caiu em um golpe palaciano, e a vida seguiu.
Mas a "revolução" ainda é comemorada.
Da mesma forma, a UNE até hoje diz ter derrubado o presidente em 1992.
Com esse aval, digamos, defende sua importância e a necessidade de ter atendidas demandas, entre um "Fora Yeda" e outro, como a volta de algum controle sobre emissão das carteirinhas.
Sintomaticamente, propostas efetivas para o ensino inexistem.
Collor foi a razão de ser do ressurgimento da UNE depois da ditadura.
Agora, em sinal trocado, Lula assume o posto e consolida o peleguismo da entidade.
Faz mais do que um sentido que os dois antigos adversários se abracem por aí.

Jornal Folha de São Paulo - 20/07/09

quarta-feira, julho 15, 2009

Comércio exterior terá cadastro positivo em dois meses

Brasília.

O governo vai criar, até setembro, uma espécie de cadastro positivo no comércio exterior. Trata-se da figura do Operador Econômico Autorizado (OEA), já existente em Japão, Estados Unidos e União Europeia, que receberá tratamento diferenciado dos chamados órgãos anuentes — Receita Federal e ministérios da Saúde, do Meio Ambiente e da Agricultura, entre outros.
Os benefícios incluem simplificação de procedimentos, despacho mais rápido, redução de prazos e prioridade na emissão de licenças, desde que a firma tenha um histórico de regularidade, esteja em dia com suas obrigações tributárias e siga as normas vigentes. O objetivo é desafogar operações de vendas e compras externas equivalentes a nada menos que 60% do fluxo comercial brasileiro (soma das exportações com as importações), ou US$ 75,5 bilhões de um total de US$ 125,9 bilhões, levando em conta o primeiro semestre deste ano. Isso se as cem maiores empresas exportadoras e importadoras aderirem ao regime. — A burocracia é uma das principais queixas de exportadores, importadores e investidores.
Nossa meta é reduzi-la o máximo possível — disse ao GLOBO a secretária-executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex), Lytha Spíndola. Fiscalizações serão feitas por amostragem Segundo Lytha, a adesão ao cadastro será voluntária. A medida beneficiará exportadores, importadores, depositários, despachantes, agentes, transportadores, armazenadores, enfim, todos aqueles que operam o comércio exterior. — O foco são empresas que exportam e importam com certa regularidade, que não têm qualquer interesse em fraudes e que gostariam de colaborar com os órgãos de governo para que a legislação seja respeitada. Em troca, terão procedimentos mais simplificados, mais rápidos, reduzindo o universo daqueles que têm de passar pelo canal vermelho — disse Lytha.
Ela explicou que o conceito do OEA é aprovado pela Organização Mundial do Comércio (OMC) e a Organização Internacional de Aduanas. Lytha afirmou ainda que o mecanismo tem um forte componente de segurança nacional, não apenas pela obediência às normas em vigor e o pagamento de tarifas e impostos, mas pelo cumprimento de regras ambientais, sanitárias, fitossanitárias e de segurança. Basicamente, toda carga que entra ou sai do país, que contenha madeira tanto na embalagem como em sua composição — contêineres, na maior parte —, é vistoriada pelo Ministério da Agricultura.
Se o operador da carga assumir compromissos junto ao governo, assegurando que seu material não contém madeira nãotratada (devido ao risco da mosca asiática), por exemplo, terá o mínimo inspecionado. Mas essa liberação não será imediata. Num primeiro momento, esse operador será monitorado, com a fiscalização por amostragem. — A ideia é dar maior fluidez ao fluxo de comércio exterior, dentro da legalidade. Os operadores assumirão termos de compromisso com os órgãos anuentes.
Em caso de descumprimento, a empresa será imediatamente descredenciada — afirmou Lytha. As vantagens para o sistema são diversas, explicou. O combate às fraudes se torna mais eficaz, porque recursos são liberados, e o foco, direcionado para operações de maior risco. — O risco do operador é que vai prevalecer, e não a atenção para cada carga individualizada — explicou.

Fonte : Jornal “O Globo” – edição de 12/07/2009

terça-feira, julho 14, 2009

Queda da Bastilha, 220 anos.

A Liberdade Guiando o Povo, quadro de Eugéne Delacroix que representa a Revolução Francesa

As Noites Revolucionárias (Le Nuits Révolutionnaires), de Restif de La Bretonne, é um livro de cabeceira para quem quer compreender a fundo como se deu o evento que é reconhecido internacionalmente como a passagem para o mundo contemporâneo. O relato de Restiff, que se auto intitula como o “espectador noturno”, põe em xeque muito do que a história nos apresenta como o panorama geral que marcou a Revolução Francesa. Visceral, pessoal e, ao mesmo tempo, distante, o livro narra como o grosso da população – e aí se incluem boa parte da burguesia francesa – vivenciou este período que foi tão significativo para todo o planeta. Restiff de La Bretonne expõe as rixas pessoais que serviram para dinamizar a corrida das cabeças, as ideologias e bases argumentativas de ambos os lados: tanto as provenientes dos burgueses, quanto as defesas e justificativas da aristocracia. Faz críticas ferrenhas à censura – até então ímpar na França – quanto às publicações que se encontravam em desacordo com a ideologia dominante, e mesmo à mera expressão de uma opinião em caráter privado. Pregando que nem o mais autoritário dos regimes monárquicos fora tão discriminador e fascista quanto a França que então se apresentava sob a égide da Igualdade, Liberdade e Fraternidade, durante o regime de Robespiere. Aliás, o cerne de suas críticas se encontra justamente na hipocrisia representada entre os discursos e as práticas não só da Revolução como de seus membros revolucionários. O medo generalizado da população de se tornar uma pessoa suspeita e ter de enfrentar os suplícios das masmorras – mais cheias do que nunca – por terem expressado um pensamento de nostalgia pela época onde as ruas eram seguras e havia comida nos fogões. Enfim, um relato da Revolução Francesa que teve de esperar muito tempo até que fosse permitido sua publicação – e mantido em sigilo enquanto isso, sob pena da tão temida viúva de todos (genialmente ilustrada por Victor Hugo em seu O Último Dia de um Condenado). Uma história que nos surpreende pela contradição com que confronta a História oficializada pelo mundo liberal capitalista.